segunda-feira, 1 de junho de 2009

Seminário de hoje

Pessoal,

Segue abaixo texto referente ao seminário que Lisandra irá apresnetar na aula de hoje.

Um abraço!
Michelle

Sujeitos e instituições; recepção e mediação: análises com base nos textos de Guillermo Orozco e Robert White

Lisandra Ogg Gomes


“Tudo aquilo que se recebe é recebido ao modo do receptor”.
Tomás de Aquino

“Falar não é repetir as mesmas palavras que nos chegam aos ouvidos, mas... é proferir outras a propósito daquelas”.
Géraud de Cordemoy

As frases citadas acima possibilitam uma aproximação com os propósitos dos textos de Guillermo Orozco (1997 e 1998) e Robert A. White (1998a e 1998b). O mérito de ambos os autores é colocar os sujeitos no centro das discussões a respeito da educação e da mídia. Nesse sentido, os artigos advertem que os sujeitos têm suas histórias de vida, participam de diferentes grupos, atuam conforme o contexto e as circunstâncias das relações sociais. Sendo assim, as mediações estabelecidas entre os sujeitos, entre eles e diferentes grupos e instituições permitem que individual ou coletivamente sejam reproduzidas, difundidas e, principalmente, produzidas leituras plurais acerca daquilo que circula na mídia. Isso demonstra a complexidade do processo de comunicação, um processo que é composto por uma variedade de inter-relações que constroem os sentidos que circulam na sociedade. Esse olhar a partir do sujeito desconsidera as idéias de passividade diante da mídia e de linearidade na transmissão de informação, cada sujeito recebendo e percebendo as mensagens advindas da mídia a partir de suas próprias experiências. Isso implica que os sentidos se fazem e desfazem nas relações sociais e, portanto, que se trata de um processo que não, necessariamente, atingirá a intenção produzida pelos emissores.
Contudo, os autores não desqualificam nem a lógica da produção e da hegemonia nem a responsabilidade dos produtores midiáticos para com os consumidores. Além dessas relações, fazem-se presentes o consumo e a identidade de cada sujeito. São identidades construídas no jogo da alteridade. Solange Jobim e Souza (2005) dirá que “É com o olhar do outro que me comunico com o meu interior. Tudo o que diz respeito a mim chega a minha consciência por meio da palavra do outro, com sua entonação valorativa e emocional”. Dessa forma, os produtos, as representações, as práticas e discursos transcorrem na mídia, mas são os sujeitos que dão sentidos a elas, fazem suas escolhas e fazem-nas a partir das confrontações, negociações e interações vividas nos processos socializadores, relacionadas à sua cultura e às suas vontades subjetivas.
Sendo assim, não é possível partir de uma explicação apocalíptica e muito menos integrada para explicar a atuação da mídia na sociedade. O que se faz necessário é considerar o contexto, os usos e os sentidos dados pelos atores sociais às mensagens que podem ser orais, visuais, musicais ou audiovisuais. São diferentes modos de recepção que influem e modificam a compreensão que os sujeitos constroem acerca do mundo. São recepções que são mediadas por diferentes instâncias socializadoras. Na atualidade e segundo Guillermo Orozco, a escola não tem conseguido cumprir o projeto educativo que se propôs e, diante da sua deficiência, responsabiliza a mídia. Para Jesús Martin-Barbero (1996), o que está em crise é o modelo e os dispositivos de comunicação que causam rupturas entre gerações e conflitos entre culturas. Todavia, a escola escamoteia esses conflitos reduzindo-os a questões morais e traduzindo-os em um discurso de lamentações sobre a manipulação que a mídia faz da ingenuidade e curiosidade das crianças.
A escola precisa estar em compasso com aquilo que faz parte do mundo dos seus alunos. Entre as crianças há circulação, mediação e socialização daquilo que transcorre na mídia; no entanto, a escola não considera essa questão. Em geral, o que faz é achar que o que é transmitido pela mídia não é fonte de aprendizagem. Da mesma forma, minimiza a influência da fantasia e do discurso e usa seu poder – de instância legitimada pela sociedade para a transmissão do conhecimento – para desacreditar a cultura do aluno e validar a cultura erudita como se fosse a única vivente.
A escola ainda é o lugar de sistematização do conhecimento, mas não é mais o único lugar de formação. Diante de tantas negativas e diante da polifonia de linguagens e pluralidade de informações que transcorrem na sociedade, ela não consegue levar os sujeitos a refletirem criticamente sobre a realidade e tampouco consegue tecer um dialogo com eles. Dessa forma, o que os autores propõem é uma educação para as mídias na qual a escola tenha clareza a respeito de seus objetivos e possibilite instrumentos para que as crianças pensem sobre seus consumos midiáticos.


Análises e Comparações entre os textos de Guillermo Orozco e Robert White:

Objetivos:
Guillermo Orozco:
– analisa a importância de uma educação para os meios de comunicação de massa;
– avalia o papel da escola e dos professores frente às novas tecnologias, em particular a TV;
– aponta os desafios e os estereótipos em relação aos meios;
– propõe que os professores sejam os mediadores entre alunos e meios de comunicação.

Robert White:
– analisa o processo de comunicação composto por uma multiplicidade de inter–relações que constituem significados e que circulam na sociedade;
– nega a idéia de linearidade na transmissão de informação;
– busca compreender os processos comunicativos, as inter–relações entre emissor e receptor e as construções de sentidos pelos receptores.

Base Teórica:
Guillermo Orozco:
Processos de Recepção (América Latina)
– são processos complexos, portanto, não ocorrem e nem terminam apenas quando se têm acessos às mensagens transmitidas pelos meios. Ao contrário, os processos transcendem essas situações e estão presentes nas práticas cotidianas.

Robert White:
Estudos Culturais (Inglaterra)
– adotam como referência a antropologia;
– são análises que consideram as relações entre culturas, práticas dos sujeitos e estruturas do poder. Tanto os sujeitos quanto a mídia têm poder;
– consideram a diversidade cultural e dos movimentos políticos, a construção da identidade e as articulações entre o local e o global.

Método:
Guillermo Orozco:
– pesquisas etnográficas: pesquisar para intervir e propor práticas que transformem ou modifiquem as interações dos sujeitos com os meios de comunicação.

Robert White:
– pesquisas etnográficas: como as pessoas usam a mídia na sua vida cotidiana?

Sujeitos e objetos:
Guillermo Orozco:
– os sujeitos são ativos e mediadores.

Robert White:
– os sujeitos e a mídia são ativos

Educação e Comunicação:
Guillermo Orozco:
– usar os processos de recepção para entender, modificar e influenciar a educação das pessoas;
– a escola precisa buscar estratégias que ensinem as crianças a serem mais críticas e autônomas diante das mensagens dos meios;
– são os sujeitos que valorizam ou não as mensagens vindas dos meios de comunicação;
– os processos de aprendizagem e de comunicação são consolidados na recepção e não apenas na emissão.
– a escola tem suas especificidades, assim como os meios, mas ela precisa aprender a lidar com a pluralidade cultural.
– a educação para os meios exige vontade política, envolvimento docente e materiais.

Robert White:
– analisar os significados, as interações e as negociações a partir de grupos particulares.
– a educação deveria partir dos interesses cotidianos das pessoas levando–as a perceber que os textos são seletivamente construídos.
– as pessoas reorganizam aquilo que vêem na mídia a partir de seu contexto, das circunstâncias e da sua subjetividade.
– as interpretações, as mediações, as negociações e as identificações em relação às mensagens midiáticas são ações que permitem mudanças graduais na sociedade.

Bibliografia:
MARTIN-BARBERO, Jesús. “Heredando el futuro. Pensar la educación desde la comunicación”. Nómadas. Santafé de Bogotá: Fundación Universidad Central, nº. 5, set., 1996.
JOBIM e SOUZA, Solange (org.). Subjetividade em questão: a infância como crítica da cultura. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005.
OROZCO, Guillermo. “Professores e Meios de Comunicação: desafios e estereótipos”. Comunicação & Educação. São Paulo: ECA/USP/Moderna, nº. 10, 1997.
_____. “Uma pedagogia para os meios de comunicação”. Comunicação & Educação. São Paulo: ECA/USP/Moderna, nº. 12, maio/agosto, 1998.
WHITE, Robert. “Recepção: a abordagem dos estudos culturais”. Comunicação e Educação. São Paulo, ECA/USP, nº. 12; p. 57 a 76, maio/ago., 1998a.
_____. “Recepção: a abordagem dos estudos culturais”. Comunicação e Educação. São Paulo, ECA/USP, nº. 13; p. 41 a 66, set/dez., 1998a.

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