sexta-feira, 26 de junho de 2009

Carta aberta do CAPPF aos docentes da Faculdade de Educação da USP

Prezados/as alunos/as,

Confiram abaixo a Carta aberta aos docentes da Faculdade de Educação da USP, enviada pelo CAPPF.
Apoiamos a iniciativa do CA e aproveitamos para informar a todos/as que, antes da greve, fizemos um debate em sala. Depois que aderimos à paralisação, aproveitamos que tínhamos este canal pela rede (nosso blog) e a nossa troca de e-mails para manter todos/as vocês informados/as sobre o que estava ocorrendo na mobilização.
Acompanhamos as movimentações para definir as nossas atividades de curso, fizemos uma das atividades (sobre EAD) como atividades de greve e suspendemos aulas e prazos em função das paralisações.
Mantivemos apenas o prazo da prova final, mas avaliamos que isso seria possível pelo fato de não de tratar de uma prova convencional, mas de uma questão a ser respondida sobre o curso, que independe inclusive do andamento das outras aulas, pois diz respeito a todo processo e não aos conteúdos especificamente.

Segue a carta abaixo.
Se quiserem, fiquem à vontade para divulgar.


Caros(as) professores(as),


Decidimos procurá-los através desta carta para polemizar a conduta que
alguns docentes vêm assumindo em relação à greve desde 5 de junho de 2009;
data da decisão coletiva da assembleia geral dos docentes.


Pensamos que tal adesão não deveria se limitar à ausência física das salas
de aula, pois o movimento não se restringe às pautas de reivindicação e às
palavras de ordem, mas demanda envolvimento e dedicação no sentido de um
aprofundamento dos debates. Buscamos resgatar o sentido público e
democrático da universidade, além de compreender o significado da política
autoritária implementada pela burocracia acadêmica e atual reitora. Assim,
para nós, estar em greve significa o mesmo que estar em trabalho formativo,
o qual se concretiza com as diversas atividades, discussões, deliberações,
tarefas, e com a reflexão necessária nos fóruns coletivos.


Partindo deste pressuposto, consideramos desmobilizador e incoerente que
alguns professores se declarem em estado de greve, ausentem-se da sala de
aula e, ao mesmo tempo, exijam dos alunos a entrega de trabalhos (finais ou
extras, como forma de "reposição" virtual de aulas, no segundo caso), em
prazos estabelecidos à revelia do movimento. Desmobilizador, porque toma dos
estudantes tempo e energia necessários ao envolvimento politizado com a
greve, nos forçando a optar entre o movimento ou a realização de tais
trabalhos; incoerente, pois a entrega dos mesmos pressupõe dedicação, do
professor e do aluno, e trabalho em atividades estranhas à greve,
compatíveis com a rotina normal. Vale salientar também que a qualidade na
produção destes fica comprometida, pois não é possível ampliar a consulta de
fontes na biblioteca, que está em greve, além de o acesso a meios virtuais
contemplar apenas os estudantes que possuem computador em detrimento aos que
precisam usar o serviço da sala pró-aluno. Que fique claro que apoiamos a
greve dos funcionários mesmo que nos impeça de utilizar esses serviços. Tal
impedimento pode gerar nos alunos dois possíveis movimentos extremamente
distintos: de indignação para com os funcionários, que acaba assumindo um
caráter egoísta, ou de indignação para com a reitoria da universidade que
não atende as demandas trabalhistas.


Destacamos também nossa discordância no tocante à situação de alguns
professores que não aderem as deliberações da própria categoria, e acima de
tudo e de todos impõem aos alunos uma concepção individual e excludente em
suas deliberações, concepção esta que deslegitima as instâncias democráticas
de expressão e organização coletivas, e por isso é destoante do que
concebemos como formação pedagógica. Há professores que simplesmente
encerraram o curso e não propuseram uma indicação de reposição de aulas,
conteúdos e métodos de avaliação pós-greve, como se não fosse importante
essa prática normal em situação de paralisação das aulas.


Alguns professores alegam ser democráticos em seu procedimento, porque este
teria sido "decidido coletivamente", na instância da sala de aula. Pensamos
que, malgrado a prática da decisão coletiva na sala seja, em outros
momentos, louvável sob o ponto de vista pedagógico, e embora seja muito
interessante que professores discutam o movimento e suas motivações junto a
seus alunos, tais discussões devem estar pautadas nas decisões tomadas,
democraticamente, nas assembleias de cada categoria, para não cairmos no
erro de deslegitimar os espaços coletivos de decisão, prática essa
importante para a formação política dos estudantes e também dos professores.


A exigência dos prazos "normais" para entrega de trabalhos e avaliações em
geral, nos parece além disso autoritária e contraditória à teoria
apresentada em sala de aula. O descumprimento individual de decisões
coletivas tomadas em instâncias legítimas de expressão de ideias e
organização, é a aceitação tácita da política autoritária que almeja o total
esvaziamento dessas mesmas instâncias, e a perda de sua legitimidade. Mas,
pior que isso, em nome de uma suposta "liberdade individual", utiliza
autoritariamente seu poder institucional conferido pela hierarquia,
prejudicando os alunos que levam a sério seu direito à expressão e
organização coletivas. Numa palavra, exercem retaliação acadêmica contra os
estudantes que lutam, democraticamente, em favor da manutenção de direitos
democráticos.


Por tudo isso, pedimos que TODOS os professores favoráveis ao movimento
suspendam TODAS as atividades estranhas à greve, para si e para seus alunos.
O espaço para expressão da opinião dos alunos da sua classe está garantido
na assembleia - e é lá que devemos orientá-los a atuar.
Pedimos, assim, um posicionamento claro por parte de vocês, nossos
professores, no tocante aos pontos levantados.


Desde já, agradecemos a atenção.


O Centro Acadêmico dispõe de um site www.cappf.org.br, e gostaríamos de
disponibilizar no mesmo a resposta dessa carta por parte do corpo docente da
Faculdade de Educação.


Cordialmente,

Centro Acadêmico Professor Paulo Freire.


--
CAPPF - Centro Acadêmico Professor Paulo Freire

Telefone: 11-3091-3293
Site: www.cappf.org.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Ou seja, a data pré-estipulada para a entrega da prova está CANCELADA. É isso?