sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Livros Ana Sefton

SEFTON, A.P. ; MARTINS, J. Representações de corpo na literatura infanto-juvenil. In: Marie Jane Soares Carvalho; Cristianne Maria Famer Rocha. (Org.). Produzindo Gênero. 1º ed. Porto Alegre: Sulina, 2004.
ISBN 8520503772
Palavras chave: corpo, discurso, literatura infanto-juvenil, representação
Sinopse do livro: Esta obra marca os estudos que se vem fazendo sobre Gênero no Brasil. Com a participação da REDEFEM nas discussões sobre gênero nasceu esse livro que tem com iniciativa fazer as reflexões possíveis no campo teórico-acadêmico e social sobre o tema. Gênero é mesmo um conceito-chave hoje para a ciência, já estando em uso há pelo menos três décadas. Das ciências humanas e sociais, o mesmo vem atravessando muitas fronteiras além das disciplinares: rompeu os muros da academia, invadiu os movimentos sociais de todas as ordens, ocupa espaço crucial nas discussões internacionais em seus mais variados fóruns é tema e demanda central das várias agências nacionais e globais para o financiamento de pesquisa e mesmo do desenvolvimento. "Produzindo Gênero" representa o esforço do grupo de pesquisadores em compreender e colocar em debate suas contribuições e indagações de ordem teórico-epistemológica através de diversas manifestações em seus espaços de trabalhos.


SEFTON, A.P. Paternidades en las culturas contemporaneas. Revista de Estudos de Género La Ventana. Volume III, série 23, México: Universidade de Guadalajara, 2006.
ISSN 1405-9436
Palavras chave: masculinidade, paternidade, estudos de gênero, estudos culturais, artefatos culturais
Sinopse do capítulo: En este artículo sintetizo parte de mi trabajo de conclusión de maestría en la cual articulo identidades paternas y discursos culturales, relacionados con los campos de los estudios de género y de los estudios culturales, a partir de los conceptos de paternidad, masculinidad, género y literatura. En los límites de este texto, establezco relaciones entre las representaciones de paternidad y las pedagogías culturales, comprendiendo las mismas como una forma de educación producida en otras instancias sociales, además de la escuela, a través de piezas culturales como por ejemplo los libros, los medios de comunicación escrita y televisiva (Steimberg, 1997).

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Agenda de novembro de 2011

Informe sobre a disciplina - Introdução aos Estudos da Educação – enfoque sociológico

Caros alunos
,

Em função dos ultimos acontecimentos, informo que aqueles que estiverem engajados no movimento de greve poderão entregar a última avaliação uma semana após o término da paralisação.

Por outro lado, aqueles que quiserem entregar a avaliação na data prevista de 30 de novembro, deverão fazê-lo, no escaninho número 42, localizado no bloco A, segundo andar.

Graça Setton

Questão para última avaliação: dentre as reflexões, leituras e ou discussões ocorridas na disciplina - Introdução aos Estudos da Educação – enfoque sociológico, disserte sobre aquela que você considera ser a mais significativa em sua futura ou atual prática docente.

Máximo 5 e mínimo 3 páginas impressas, letra 12, espaçamento 1.5.

Observação: Peço aos alunos Bruno Pereira e Marina Chen levarem na próxima aula uma segunda via da segunda avaliação.


Dia 22 de Novembro


Encontro GPS
Discussão Projeto de doutorado de Rodrigo Ratier
Quem educa o jornalista de Educação? Uma mirada sobre as influências nos esquemas de pensamento e ação dos profissionais da área
Local: FEUSP - Sala 59 – Prédio B – 17:30hs

sábado, 15 de outubro de 2011

Agenda de outubro e novembro de 2011

Confira as próximas atividades e encontros do Grupo de Pesquisa Práticas de Socialização Contemporâneas:

Dia 25 de outubro

Encontro GPS
Discussão texto: Marcel Mauss e Norbert Elias: notas para uma aproximação

epistemológica.
Local: FEUSP - Sala 59 – Prédio B – 17:30hs

Dia 29 de outubro
Conferencia Profa. Maria da Graça Setton: "A noção de violência simbólica em Pierre Bourdieu: implicações sócio-antropológicas"
Faculdades Sumaré – (campus Sumaré) 14hs
Leia aqui o texto da Conferência.

Dia 04 de Novembro

Missão de Estudos – PROCAD – USP - Universidade Grande Dourados - MGS
Palestra – Leituras de Pierre Bourdieu

Dia 22 de Novembro

Encontro GPS
Discussão Projeto de doutorado de Rodrigo Ratier
Quem educa o jornalista de Educação? Uma mirada sobre as influências nos esquemas de pensamento e ação dos profissionais da área
Local: FEUSP - Sala 59 – Prédio B – 17:30hs

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Conferência: Práticas Culturais e Direitos Sociais: tensões e desdobramentos

Baixe aqui o texto em PDF


Conferência de Abertura Seminário/ Professora Maria da Graça Jacintho Setton


Faculdade Sumaré – Dia 29 de outubro de 2011.


Título Conferência - A noção de violência simbólica em Pierre Bourdieu: implicações sócio-antropológicas




Antes de tudo, gostaria de agradecer ao convite de estar aqui fazendo a conferência de abertura deste seminário da Faculdade Sumaré.


É com sincero contentamento que organizei e planejei estas breves considerações acerca do sociólogo Pierre Bourdieu e, uma de suas noções que muito pode contribuir para o tema deste seminário.




Práticas Culturais e Direitos Sociais: tensões e desdobramentos




Já há algum tempo vinha me cobrando refletir mais detidamente acerca da noção de violência simbólica e esta oportunidade me pareceu a ocasião para uma sistematização.



Minha apresentação estará montada em três momentos; no primeiro deles, vou falar um pouco sobre a trajetória intelectual do autor; em seguida, vou me deter em sua concepção sistêmica do social e, por ultimo, vou me debruçar sobre a noção de violência simbólica, tal como me foi proposto pelos organizadores do evento.



Pierre Bourdieu nasce em 1930, na cidade de Deguin, no sudoeste da França e, morre aos 71 anos de idade, em Paris, vítima de um câncer.


Embora vindo de uma família simples, Bourdieu tem uma trajetória acadêmica invejável. Frequentou os melhores estabelecimentos de ensino de seu país, e, nos anos cinqüenta, licenciou-se em Filosofia.


Em uma carreira meteórica, aos 37 anos idade, Bourdieu funda seu próprio laboratório de pesquisa, intitulado Centro de Sociologia da Educação e da Cultura, em Paris.


É preciso enfatizar que, sempre trabalhando em equipe Bourdieu estabelece sua própria escola de sociologia.


Em uma perspectiva cronológica, nos anos de 1970, a produção de Bourdieu versa sobre aspectos que adensam uma contribuição no campo da sociologia da educação e da cultura, com publicações acerca do sistema escolar, da prática de freqüência a museus, bem como o uso da fotografia, entre outros temas, num exercício comparativo entre diferentes grupos sociais.


Em 1979, publica o livro A distinção, certamente sua obra maior, que agrega experiências em investigações no campo das práticas de cultura, recebendo em 1981, com 51 anos de idade, a consagração da cadeira de sociologia no Collège de France.


Em 1993, em mais um reconhecimento de seu trabalho acadêmico, recebe do Centro Nacional de Pesquisas Científicas - CNRS, na França, a condecoração da Medalha de Ouro.


Desde o início Bourdieu dedica-se a objetos de pesquisa até então pouco comuns. Debruça-se sobre estudos relativos ao gosto, aos estudantes, às práticas culturais pouco legítimas como a alta costura, a honra das tribos berberes e, até mesmo, ao casamento e as estratégias matrimonias de sua região natal.


Seu método de trabalho também revoluciona.


Procurando desconstruir o mito da verdade científica, propõe uma investigação sobre o comprometimento sócio-político do cientista social. Propõe uma sociologia dos sociólogos baseada em uma constante vigilância de princípios da pesquisa nas ciências humanas.


Recusando filiação a qualquer corrente do pensamento social, como o marxismo ou o estruturalismo, denomina-se um estrutural genético.


Associando disposição e sensibilidade, uma talentosa equipe de pesquisa, apoio institucional e acadêmico, Bourdieu produziu uma teoria útil para as reflexões sobre as complexas relações simbólicas e materiais das formas de manutenção e ou transformação da dominação política, econômica e cultural, nas sociedades modernas ou tradicionais, em que a noção de violência simbólica assume uma especial importância.


Rompendo com uma vasta tradição de estudos do campo da Filosofia, sua área de formação, Bourdieu é tributário dos clássicos da sociologia, entre eles, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim, constituindo-se em um pesquisador que transcendeu diferentes concepções e perspectivas sociológicas.


Se até os anos 1980, sua ascensão no universo intelectual se realiza de maneira significativa, os anos 90 marcam uma mudança de estratégia na atuação acadêmica de Bourdieu.


É expressiva sua cruzada contra a imprensa. Transfere o status de sociólogo para o de intelectual engajado em lutas sindicais, fustigando experts midiáticos, desqualificando uma vulgata intelectual, que segundo ele, desenvolviam a difusão de uma política neoliberal, em função de uma intensa visibilidade.


Relembrando o histórico da primeira publicação de Bourdieu, no Brasil, há mais de trinta anos, podemos observar que sua presença entre nós foi intermitente. A edição do livro A Reprodução (1970), escrito em parceria com Jean Claude Passeron, foi introduzida, nos cursos de Pedagogia, a partir de um registro que não faz jus à sua obra. Nesse período, passou a ser referência nas discussões relativas à natureza conservadora do sistema de ensino e a noção violência simbólica passou a ser uma marca em suas reflexões.


Mesmo sendo reconhecido pela originalidade de seu trabalho, a obra de Bourdieu aos pouco foi sendo preterida no Brasil, entre os pedagogos, em função de outros autores. Não obstante, a partir dos anos 1980, com a publicação do livro Questões de Sociologia (1983) e de duas outras coletâneas de artigos, esforço empreendido, sobretudo, por sociólogos Bourdieu passou a ser referencia para análises socioculturais mais amplas.


Aos poucos, com o aumento das traduções para a língua portuguesa, nomeadamente nos anos 1990, passa a ser um autor lido e reverenciado pelas ciências sociais em geral. Oferecendo um quadro conceitual e teórico pertinente às interpretações acerca da produção cultural institucional bem como reflexões referentes às mediações simbólicas, Bourdieu é desde então tão apreciado quanto questionado em suas formulações.




Uma concepção sistêmica do social



Para compreendermos com propriedade a noção de violência simbólica, antes de tudo, seria interessante considerar que Pierre Bourdieu tem uma concepção sistêmica do social.


Ou seja, a estrutura social é vista por ele como um sistema hierarquizado de poder e privilégio, poder e privilégio determinado tanto pelas relações materiais de existência quanto pelas relações simbólicas entre os grupos.


Segundo o autor a diferente localização dos grupos na estrutura social deriva da desigual distribuição de recursos e poderes de cada um deles. Por recursos Bourdieu compreende: capital econômico, capital cultural, capital social e capital simbólico.


Mais especificamente, a posição que um determinado agente ocupa no espaço social é definida de acordo com o volume e a composição de recursos, ou seja, é definida de acordo com a quantidade e a variedade de capitais adquiridos e/ou incorporados ao longo das trajetórias. Neste sentido, a desigual distribuição de capital econômico, capital cultural, capital social e capital simbólico permitem a constituição de práticas e disposições culturais variadas e, específicos interesses de grupo.


Para compreender as diferenças e as semelhanças de disposições culturais dos grupos sociais, Bourdieu utiliza-se do conceito de habitus; princípio orientador de todas as práticas. Considera que as atividades e representações do agente social são explicadas por meio de um conjunto de disposições, éticas e estéticas, que expressam, na forma de sistemas de preferências culturais, as fraturas da estrutura social.




A noção de violência simbólica




Passando para a última parte dessa conferência diria que, herdeiro do pensamento sociológico clássico, Pierre Bourdieu se apropria da noção de violência simbólica para analisar o caráter oculto de processos de interiorização de valores morais arbitrários, realizados em uma ação pedagógica ou comunicativa extremamente poderosa e insidiosa.


Para uma melhor apreensão dessa noção, valeria lembrar como o autor concebe os sistemas simbólicos.


Para ele, grosso modo, baseando-se nas contribuições de Durkheim, os sistemas simbólicos podem ser concebidos de duas maneiras. Primeiramente, os sistemas simbólicos devem ser vistos como estruturas cognitivas de orientação da ação ou instrumentos de conhecimento do mundo e dos objetos. Isto é, refere-se às nossas categorias do pensamento, nossas categorias do julgamento, como, por exemplo, as categorias feminino e masculino, feio e belo, certo e errado.


Bourdieu afirma ainda que este universo de símbolos de classificação do mundo se constitui em sistemas estruturados e partilhados por todos igualmente.


A segunda maneira de conceber os sistemas simbólicos refere-se à compreensão de estruturas estruturadas do pensamento como um código de comunicação; ou seja, Bourdieu salienta a natureza das equivalências entre sons e sentidos que permitem a todos fazer uso de um mesmo entendimento ou referencial. Todavia, é importante frisar que esses valores – feminino e masculino - por exemplo, não se reduziriam a uma submissão abusiva.


O lento processo de socialização e aquisição dessas referências inculcadas pelas instâncias produtoras de cultura são resultados de longas experiências inconscientes a que todos somos submetidos.


A família, a religião, a escola e mais recentemente as mídias, enquanto espaços produtores de cultura, cada uma à sua maneira, imporiam, sem consciência, um sistema integrado de padrões de comportamento e representações valorativas. Embora produtos de determinações sociais, os bens culturais produzidos nessas diferentes matrizes socializadoras, submeteriam o agir e o pensar dos agentes de maneira lenta e velada, numa perfeita orquestração de sentidos.


Para Bourdieu, os sistemas simbólicos, assim concebidos, tornariam possível um consenso geral acerca do mundo. Símbolos ou valores sociais assim como a linguagem do cotidiano seriam instrumentos de integração do mundo, serviriam como um cimento cultural, que ligaria e ou integraria a todos em torno de um sentido comum.


Em síntese, para Bourdieu, enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação, os sistemas simbólicos são fundamentalmente responsáveis por parte do consenso acerca do sentido do mundo social.


No entanto, indo além dessas duas formas de conceber os sistemas simbólicos, Bourdieu, a partir das contribuições weberianas, compreende também os sistemas culturais como instrumentos de dominação. A linguagem do cotidiano, entre outras, como parte integrante da cultura, seria mais do que um simples instrumento neutro de conhecimento e de comunicação; para ele, os sistemas simbólicos, em geral, podem ser instrumentos de poder.


Segundo Bourdieu, todos os atos comunicativos, não estão destinados apenas a serem compreendidos. São também signos de autoridade a serem acatados.


Nesse sentido, alerta para a necessidade de se observar quem faz uso da fala, de onde fala, quando fala e o que fala.



Mais especificamente, para trazer essa discussão para a realidade cotidiana, poderíamos fazer uso do caso específico da publicidade, recentemente em debate, que envolvia a modelo Gisele Bundshen e a marca de lingerie Hope. Ainda que a proposta de seus idealizadores não tenha sido essa, o marketing ali construído incidia com uma grande carga de violência simbólica.


Trabalhando com sentidos acerca de um entendimento do papel da mulher, remetendo-se a uma concepção de relação entre os sexos, fazendo uso de um estereótipo feminino, acabou por reforçar uma compreensão naturalizada dos papeis entre os sexos, isto é, o papel de provedor e o outro de dependente, dependência essa justificada pelo desfrute do corpo ou beleza feminina, entre outros aspectos. Um imaginário construído sobre a mulher com a obrigatoriedade de ser bela, dependente, objeto de prazer, etc etc ....


Chamo atenção aqui para o fato de que a publicidade no ato de emitir uma mensagem acerca do poder de sedução do corpo feminino, acompanhada pela transmissão pública de imagens, recobriu-se de uma aura de evidência, mágica e espontânea, por que teve a capacidade de confirmar como natural e evidente aquilo que anunciou.


O campo da publicidade neste caso assumiu a faculdade de legitimar fatos, entendimentos e representações acerca da mulher e do homem, impondo-os a todos. Seu poder simbólico consistiu, pois, na imposição dissimulada de um sistema de classificação hierarquizado de relação entre homens e mulheres, sob a aparência legítima de categorias culturais consensuais.


Poderíamos afirmar que a docilidade do público frente a esse arbitrário cultural construído pela publicidade instaurou uma relação de violência simbólica entre o sujeito do discurso e seus receptores. Instaurou a crença no poder das palavras e naqueles que as pronunciaram. O pedido de retirada de circulação da campanha publicitária foi arquivado e considerado exagerado. Foi consensual que a publicidade era inofensiva.



Desta forma, o uso da linguagem, entre elas a publicitária – nas suas mais variadas versões - tanto em seu estilo e forma, como em seu conteúdo dependerá sempre da posição social de legitimidade e visibilidade ocupada pelo locutor. Toda linguagem seria, de certa forma, valorativa, expressaria um interesse, uma visão de mundo e por isso deveria ser vista dentro de um contexto social de produção e veiculação.


Os discursos teriam sempre um valor diferenciado, dependeriam sempre das relações de força entre os locutores concorrentes no mercado lingüístico.


Para a compreensão fiel da noção de violência simbólica e suas implicações sociais deveríamos, enfatizar que as relações de comunicação podem, então, se constituir em relações de força simbólica que dependem, na forma e no conteúdo, do poder material e simbólico acumulado pelos agentes envolvidos nessas relações.


Para Bourdieu, a imposição do discurso daquele que tem o monopólio da fala traduz-se em um poder simbólico; ou seja, um poder de inculcar formas e categorias de conhecimento e de classificação do mundo.


Segundo Bourdieu, o poder simbólico e em decorrência a violência simbólica, poderiam ser definidos como poderes invisíveis, pois só podem ser exercidos e obedecidos com a cumplicidade daqueles que não sabem que estão sujeitos a ele ou mesmo que o exercem, pois estão emersos nessa realidade simbólica.


Diferente do conceito de ideologia de origem marxista, mas devedora desta, a noção de violência simbólica não se reduz à dominação de ordem econômica realizada pela desigual distribuição de um único tipo de capital, ou seja, o capital econômico. Mas procura traduzir um conjunto de esquemas de pensamento que justificam e reificam desigualdades em muitas outras dimensões da vida societária, encontradas também nos espaços culturais, nas relações entre os sexos, nas lutas políticas, éticas e ou religiosas.


A violência simbólica não deveria ser confundida com uma falsa consciência pois, não pertence a uma única classe; ela expressa um conjunto de esquemas de pensamentos coletivos, interiorizados e inconscientes, no qual apenas um longo processo de reflexão e esclarecimento seria capaz de romper. São estruturas cognitivas incrustadas em nossos sistemas de conhecimento, em uma bagagem conceitual e lingüística, que justificam o mundo que nos cerca, incapaz de ser vista sob suspeita.


Ademais, o conceito de violência simbólica, enfatiza a análise do caráter arbitrário de todas as instâncias de produção e consagração cultural em uma sociedade injusta e desigual.


É necessário, pois, destacar aqui a originalidade do conceito ao explicitar as articulações entre dominação cultural e dominação política. Ao criar, ao prestigiar ou valorar positivamente um conteúdo, as instituições produtoras de bens simbólicos impõem suas categorias de percepção e visão do mundo.



Para Bourdieu, a base por excelência do poder social não deriva apenas da riqueza material e cultural dos grupos, mas da capacidade que estes grupos têm em transformar em legítima um único ponto de vista.


Bourdieu, a partir da noção de violência simbólica, põe em evidência um poder sutil, uma forma oculta de poder, responsável pela manutenção da ordem sócio-estrutural.


Nesse sentido, poderíamos afirmar que a noção de violência simbólica faz parte constitutiva da teoria política e simbólica do autor, mais especificamente da teoria do poder simbólico, base pela qual Pierre Bourdieu constrói uma sociologia dos mecanismos de estruturação da ordem social.


Seja de natureza material ou figurada, objetiva ou subjetiva, estes mecanismos e ou estratégias de dominação são explicitados, em muitos momentos, por Bourdieu, a partir do uso desta expressão.


Ademais, o uso da noção de violência simbólica deriva da necessidade de revelar uma peculiaridade dos universos alegóricos e morais que, produzidos, reproduzidos pelos grupos, e interiorizados por eles e pelos indivíduos, na forma de disposições de cultura, podem ser potenciais elementos de uma dominação simbólica, e em última instância, uma violência simbólica.


Em outras palavras, uma violência branda, sutil, desconhecida e oculta de poder, porque se encontra na ordem dos símbolos, em nossas categorias do pensamento, capaz de legitimar uma estrutura social arbitrária.


Raciocínio original do autor, ressalto, que denuncia as articulações entre produção cultural e dominação política nas sociedades hierarquizadas.


Como postulado, princípio de ação ou pressuposto lógico os sistemas simbólicos - como a religião e a ciência, a linguagem do cotidiano, por exemplo - suas categorias do pensamento, hierarquias de percepção e classes de julgamento, constroem simultaneamente consensos pré-reflexivos, ilusões justificadas, modalidades dóxicas, que interiorizadas de maneira homeopática são compreendidas e difundidas como, evidentes, sensatas e socialmente sancionadas.


É possível afirmar também que o uso da noção de violência simbólica passa por um desejo do autor de provocar e sensibilizar o olhar do observador social sobre a natureza contingente, contudo, inquestionável do universo simbólico moral das sociedades ocidentais.


De carater naturalizado, as classificações sociais são sempre coletivas, são sempre produtos de construções que remetem a um jogo de forças entre agentes ou grupos sociais diferentemente posicionados na estrutura social.


Se a violência simbólica tem origem no reconhecimento de uma “verdade” construída pelos poderosos, ela depende de um reconhecimento social e individual de uma maioria, tornando-se valida, evidente e consagrada.


A violência simbólica deriva então de um conjunto de crenças, uma visão de mundo que orientam as condutas, orientam os pensamentos, se traduzem em um conjunto de disposições, repito, éticas e estéticas, que alimentam o sentido prático das ações individuais e coletivas.


Nesse sentido, poderíamos afirmar que a noção de violência simbólica não é uma simples palavra na estrutura do pensamento de Pierre Bourdieu. Trata-se de uma noção que revela uma significativa contribuição para o entendimento da complexidade das articulações entre o universo simbólico e material das sociedades humanas.


Trata-se de um importante instrumental para explorar o universo inconsciente das ações individuais e grupais, ou seja, o sentido prático do comportamento humano. Não fazendo uso das distinções entre as ciências humanas – filosofia, história, antropologia, sociologia, lingüística, e ou mesmo economia e psicologia - para Pierre Bourdieu, o cientista social deve se armar de todo o tipo de ferramenta conceitual para penetrar na complexidade das realidades sociológicas.


Tudo leva a crer que a noção de violência simbólica explicita essa complexidade. Ela remete a um feixe de condicionamentos socializadores que mescla dimensões objetivas e materiais bem como subjetivas e simbólicas da vida grupal e individual.


Sem dúvida, a noção de violência simbólica é reveladora de um esforço original de compreensão das relações dialéticas entre indivíduo e sociedade, relações dialéticas entre estrutura social e estrutura mental, expressa a força do pensamento interdisciplinar do autor bem como seu esforço em revelar os mecanismos de orquestração dos sentidos que tecem as redes sociais de significação.


Para Bourdieu, a dimensão oculta da violência simbólica é produto de um reconhecimento e de um desconhecimento sistemático do arbitrário de uma produção cultural devido ao fato de estarmos emersos nela e julgá-la como evidente.


Para finalizar, contudo, valeria enfatizar que embora a análise sobre o poder arbitrário da produção cultural em Pierre Bourdieu leve-nos a uma leitura pessimista da dinâmica da reprodução da dominação simbólica, seria importante salientar que para Bourdieu todo esclarecimento é uma forma de subversão.


A tomada de conhecimento dos mecanismos de reprodução da violência simbólica é a primeira condição para a transformação do que está estabelecido.


Muito obrigada

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Agenda de outubro de 2011


Informe sobre a disciplina da Graduação - Introdução aos Estudos da Educação

Caros alunos
A questão de avaliação para ser entregue ATÉ DIA 13 DE OUTUBRO é:

A partir das leituras e discussões realizadas até agora, façam uma reflexão acerca dos processos de construção da realidade social.

Máximo 5 e mínimo 3 páginas.

A avaliação deve ser entregue no escaninho com o meu nome localizado no prédio B, térreo.

Atenciosamente,
Graça.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Agenda de setembro de 2011

Confira a seguir as atividades deste mês relacionadas ao Grupo de Pesquisa Práticas de Socialização Contemporâneas (GPS) e outros informes.

27 de setembro
Encontro do GPS para discussão de artigo sobre Norbert Elias e Marcel Mauss, de Maria da Graça Setton.
Local: FEUSP - Sala 59
Horário: de 17h00 a 19h30

Confira aqui as próximas reuniões do GPS neste semestre.

***

Informações sobre a disciplina da Graduação - Introdução aos Estudos da Educação

Caros alunos
Conforme prometido, publico o plano de leitura para o filme que será projetado no auditório da FE-USP, às 19:30hs, dia 21 de setembro. Clique aqui para acessar.

Lembro que é uma atividade obrigatória. O filme é longo e iremos começar a projeção no horário acima.
Até lá, Graça.

Atividade paralela - Introdução aos Estudos da Educação

Filme - “Um violinista no telhado”, de Norman Jewison. 1971.

Objetivos da atividade


1 - exercício de sistematização de conceitos vistos nas aulas anteriores

1.1 - processo de socialização – exteriorização, objetivação e interiorização

1.2 – identidade social atribuída e identidade pessoal construída

1.3 - processo de interiorização, subjetivação

1.4 - papéis sociais


2 - exercício de observação etnográfica

2.1 - a tradição, a família e a religião como agentes socializadores e orientadores de uma visão de mundo, um estilo de vida

2.2 - papéis sociais definidos segundo preceitos religiosos baseados na tradição

2.3 - a esfera religiosa compondo-se com a esfera do cotidiano

2.4 - rituais religiosos onde os preceitos, regras e proibições são vistos como veículos mediadores da socialização

2.5 - a instância religiosa como produtora de valores e símbolos sociais


3 - aspectos da transformação da ordem social

3.1 - a mudança social como fator geracional,

3.2 – a mudança social e a literatura, a cidade grande

3.2 - a mudança social e o questionamento político

3.3 - a intolerância religiosa/política


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Agenda de Setembro de 2011

Confira a seguir as atividades deste mês relacionadas ao Grupo de Pesquisa Práticas de Socialização Contemporâneas (GPS) e outros informes e dicas.

de 14 a 17 de setembro
VIII Semana de Educação - Universidade e Escola Pública: desafios e perspectivas da educação pública no Estado de São Paulo

Acesse a programação completa aqui.

15 de setembro
Educação e tecnologias (mesa durante programação da Semana de Educação)
Coordenação: Maria da Graça J. Setton
Reginaldo Carmelo de Moraes - Unicamp

Alexandre Fernandes Barbosa - Nic. Br
Carlos MacDowel - IFSP
Dirceu Donizetti Dias de Souza - EE Zuleika de Barros

Horário: 19h30 - 21h30
Local: Auditório FEUSP

27 de setembro
Encontro do GPS para discussão de artigo sobre Norbert Elias e Marcel Mauss, de Maria da Graça Setton.
Local: FEUSP - Sala 59
Horário: de 17h00 a 19h30

Confira aqui as próximas reuniões do GPS neste semestre.

***

Informações sobre a disciplina da Graduação - Introdução aos Estudos da Educação

Conforme deliberação da Congregação da FE-USP, não haverá aulas no período de 12 a 16 de setembro em função do I Encontro Entre Universidade e Escolas Públicas.

Entretanto, gostaria de confirmar a entrega do trabalho de avaliação para o dia 14 de setembro. Estarei em sala de aula para receber a atividade por escrita e digitada, já acordada anteriormente.

Sobre a Atividade para dia 14 de setembro de 2011

No texto "Religião e construção do mundo", de Peter Berger, que se encontra no livro "O Dossel Sagrado - elementos para uma teoria sociológica da religião", localizem as definições das seguintes noções: exteriorização, objetivação, interiorização e nomos.

Respondam também a seguinte questão: Por que a cultura humana está sempre em busca de equilíbrio?

As respostas de cada definição não podem ser inferiores a 8 linhas e nem superiores a 15 linhas.

As leituras para o dia 21 de setembro e a projeção do filme estão confirmadas.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Encontros GPS - 2º semestre de 2011

Todos os encontros acontecem às terças-feiras, das 17h00 às 19h30, na sala 59 da FE-USP.

29 de agosto
Discussão do projeto de mestrado de Gabriela Valente

27 de setembro
Discussão de artigo de Maria da Graça Setton sobre Marcel Mauss e Norbert Elias

25 de outubro
Discussão do projeto de doutorado de Rodrigo Ratier

22 de novembro
Discussão do projeto de doutorado de Elias Evangelista Gomes

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Seleção
Iniciação Científica


Pesquisa: A socialização à brasileira: etnografia sobre cultura popular e nacional no marketing político.


Orientação: Profa. Associada Livre Docente Maria da Graça Jacintho Setton


Prazo: envie um email até 11 de agosto de 2011 (quinta-feira), manifestando interesse e com uma breve apresentação e justificativa do interesse no tema. Será agendada uma entrevista. Email: gpspesquisamarketing@yahoo.com.br


Perfil: Matriculado/a nas Licenciaturas em Ciências Sociais, História ou Pedagogia (cursando pelo menos o 2ª semestre). Ter interesse em estudar temas da sociologia da educação e antropologia política. Ter interesse em leituras em língua estrangeira (inglês e/ou espanhol, preferencialmente. Não é necessário ter fluência). Ter disponibilidade de 20 horas, distribuídos em atividades realizadas no Laboratório do GPS na FEUSP e em casa (Horários a combinar).


Valor da Bolsa: R$ 360,00 (Trezentos e sessenta reais).
Vigência: 01 de outubro de 2011 a 30 de setembro de 2010.


Mais informações sobre iniciação científica: www.fe.usp.br
Blog GPS – FEUSP: http://praticasdesocializacao.blogspot.com/

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Agenda de Agosto de 2011

Confira as atividades do GPS neste mês:

Dia 29 de agosto

14:30hs
Discussão do Projeto mestrado
Aluna - Gabriela Valente
Título: Cultura da escola e Religião na escola pública: reflexões a partir de um caso
Sala 59 - Prédio B - Faculdade de Educação - USP

Confira o cronograma da disciplina de Licenciatura
Introdução aos Estudos da Educação - enfoque sociológico - Quartas à noite
Responsável- Profa. Maria da Graça Jacintho Setton

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cronograma da disciplina - Introdução aos Estudos da Educação

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

2º SEMESTRE 2011- Disciplina - Introdução aos Estudos da Educação
RESPONSÁVEL - PROFA. DRA. MARIA DA GRAÇA J. SETTON

Título da disciplina O processo de socialização – aspectos de sua dimensão tradicional e moderna. Objetivos da disciplina: A disciplina tem como objetivo apresentar um conjunto de conceitos que habilite os alunos a pensar sociologicamente o processo educativo. Primeiramente, faremos uma breve discussão sobre a especificidade da ciência sociológia, procurando mostrar sua importância na formação do educador. Logo em seguida, dando destaque a discussões contemporâneas sobre o tema, discutiremos o alcance e o limite de cada uma delas no sentido de abordar as instituições de socialização tradicionais (família e religião) e modernas (escola e mídias), considerando as especificidades de cada uma delas. Por fim, analisando a particularidade da socialização na atualidade, contextualizaremos este processo em uma nova configuração sócio-cultural. Ao refletir sobre as transformações sofridas pelo processo educativo no último século, temos ainda a intenção de introduzir o aluno aos novos desafios da educação na sociedade atual.

Cronograma

1)03 de agosto
Apresentações – discussão sobre o programa de curso

2)10 de agosto
MILLS, Wright. “A promessa”. PP.09-32. in A imaginação sociológica. Ed. Zahar. Rio de Janeiro. 1964.

Bibliografia Complementar
ELIAS, Norbert. Introdução à sociologia. Lisboa: Ed.70, 1999, p.13-34. (Introdução)
MILLS, Charles Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1965, p.211-243. (Apêndice – Do artesanato intelectual.)
NISBET, Robert. A sociologia como uma forma de arte. In Revista Plural, USP, São Paulo.
BERGER, Peter L. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. Petrópolis: Vozes, 1986.
BOURDIEU, Pierre. Uma ciência que perturba. Entrevista a Pierre Thuillier. In: _________. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1980, p.16-20.

3)17 de agosto
DURKHEIM, Emile. Que é fato social. In Fato Social e Divisão do Trabalho. PP.13-28. (org. Ricardo Musse), São Paulo, Ed. Ática. 2007

4)24 de agosto
DURKHEIM, Emile. “A Educação – sua natureza e função”. In Educação e Sociologia. São Paulo, Ed. Companhia Nacional, Pp.33-49. 1978.

5)31 de agosto
BERGER, Peter. Religião e construção do mundo. PP. 15-41. In O dossel sagrado. São Paulo. Ed. Paulus,. 2003.

6)14 de setembro
BERGER, Peter. Religião e construção do mundo. PP. 15-41. In O dossel sagrado. São Paulo. Ed. Paulus,. 2003.

Bibliografia Complementar
SANCHIS, Pierre. Cultura Brasileira e religião...passado e atualidade. In Cadernos CERU. São Paulo, Serie 2, vol.19, n/2, dezembro, 2008, PP.71-92.

7)21 de setembro
Projeção do Filme - Um violinista no Telhado – 1971 – Norman Jewison – 180min.
GIDDENS, Anthony. (2000), “Família” e “Tradição”. PP.47-75. In Mundo em descontrole - o que a globalização está fazendo de nós. Ed. Record. Rio de Janeiro / São Paulo.

Bibliografia Complementar
ALMEIDA, Heloisa Buarque. Familia e relações de parentesco – contribuições antropológicas. In Direitos Humanos e Educação para a democracia. (org. CARVALHO, José Sergio), Petrópolis: Ed. Vozes, 2004.

8)28 de setembro
Fechamento primeira unidade do curso

9)05 de outubro
Avaliação

10)19 de outubro
BERGER, Peter & LUCKMANN, Thomas. A sociedade como realidade subjetiva. In A construção social da realidade. Ed. Vozes. Petrópolis. 1983. Pp.184-195

11)26 de outubro
NÓVOA, Antônio. Para o estudo sócio-histórico da gênese e desenvolvimento da profissão docente. in Teoria e Educação, número 4. São Paulo, 1991. SÓ A PRIMEIRA PARTE DO TEXTO

12)09 de novembro
GIDDENS, Anthony. Introdução. PP.1-8. in Modernidade e Identidade Pessoal. Ed. Celta. Portugal. 1994.

13)16 de novembro
KELLNER, Douglas. Introdução. Pp.09-24. In A Cultura da mídia. Bauru, EDUSC. 2001.

Bibliografia Complementar
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo. Ed. UNESP, 1991.

14)23 de novembro
DUBET, François, A formação dos indivíduos: a desinstitucionalização escolar. Contemporaneidade e Educação, ano III, março, São Paulo, p.27-33.

Bibliografia Complementar
DUBET, François. Sociologia da Experiência. Lisboa, Instituto Piaget, 1996.

15)30 de novembro
Avaliação Final

OBS- Leituras complementares serão indicadas ao longo do curso, na medida em que as discussões forem solicitando.

Avaliação
Participação em sala de aula, leitura dos textos, trabalhos em grupo, provas e fichamentos optativos.

Roteiro de Leitura
Para garantir a compreensão dos textos indicados todos eles deverão passar por uma leitura cuidadosa. Assim, seria importante que o aluno seguisse estas sugestões.

1 – Leia todo o texto grifando as frases que considera essenciais

2 – Dê um nome a cada um dos parágrafos a fim de que eles expressem a idéia principal ali anunciada

3 – Faça uma síntese contendo a) os objetivos do texto b) o argumento do autor e c) a sua conclusão

OBS: No início as sínteses serão longas, mas com a prática elas irão ficar mais precisas.

“ A explicação sociológica exige, como requisito essencial, um estado de espírito que permita entender a vida em sociedade como estando submetida a uma ordem, produzida pelo próprio concurso das condições, fatores e produtos da vida social” Florestan Fernandes

......A sociologia da educação é um capítulo, e não dos menores, da sociologia do conhecimento e também da sociologia do poder – sem falar da sociologia das filosofias do poder. Longe de ser este tipo de ciência aplicada, portanto inferior e adequada somente para os pedagogos, que se acostumaram a vê-la dessa forma, ela se situa na base de uma antropologia geral do poder e da legitimidade: ela conduz, com efeito, ao princípio dos “mecanismos” responsáveis pela reprodução das estruturas sociais e pela reprodução das estruturas mentais que, por lhe serem genética e estruturalmente vinculadas, favorecem o desconhecimento da verdade dessas estruturas objetivas e, por isso, o reconhecimento de sua legitimidade.

Estruturas sociais e estruturas mentais, Pierre Bourdieu. In Teoria e Educação, 3, 1991, pp113-119.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Julho de 2011

Já estão disponíveis os vídeos do seminário sobre Norbert Elias. Clique aqui para assistir às palestras na íntegra:

Norbert Elias e Sigmund Freud - Prof. Paulo Endo - IP-USP
Norbert Elias e Georg Simmel - Prof. Arthur Bueno - Escola de Sociologia e Política.

Confira o texto de apresentação da Profa. Graça Setton, que coordenou o seminário.

Veja também:
Eric Dunning, Professor Emérito da Universidade de Leicester, esteve recentemente no Brasil e concedeu duas entrevistas à RTV Unicamp. Ele abordou temas relativos à teoria sociológica de Norbert Elias e à sociologia do esporte. Veja os dois vídeos nos links a seguir:

Entrevista com o Prof. Eric Dunning: Figurational Theory of Norbert Elias
Entrevista com o Prof. Eric Dunning: Women and Sport in Norbert Elias

Agenda:

Dia 30 de junho

Entrega notas dos alunos da disciplina Leituras de Norbert Elias.

Dia 27 de julho
Entrega dos projetos de pesquisa para avaliação final da disciplina de Pós Graduação Projetos de pesquisa: leituras sobre o método e técnicas na sociologia da educação.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Assista às palestras sobre Norbert Elias, Sigmund Freud e Georg Simmel

O seminário marcou, em 27 de junho de 2011, o encerramento da disciplina "Leituras de Norbert Elias", ministrada pela professora Maria da Graça Jacintho Setton na Faculdade de Educação da USP. Os professores convidados discutiram as contribuições de Elias e suas reflexões nas áreas da sociologia e da psicologia.

Durante o semestre, os encontros tiveram como objetivo maior a consolidação de um entendimento acerca dos processos socializadores a partir de uma perspectiva eliasiana, ou seja, os processos socializadores como um campo de investigação necessariamente que se compõe de indivíduos, estrutura social, sentido e história.

Parte 1 de 3

Apresentação e palestra Norbert Elias e Sigmund Freud, com o professor Paulo Endo (IP-USP)




Parte 2 de 3
Palestra Norbert Elias e Georg Simmel, com o professor Arthur Bueno (Escola de Sociologia e Política)




Parte 3 de 3
Perguntas e debate


Palestras de Encerramento: Norbert Elias e Sigmund Freud e Norbert Elias e Georg Simmel

Dia 27 de junho de 2011

Disciplina: Leituras de Norbert Elias – Faculdade de Educação - USP

Palestras de Encerramento: Norbert Elias e Sigmund Freud e Norbert Elias e Georg Simmel
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Fala de apresentação da professora Maria da Graça J. Setton:

Caros alunos e colegas
É com imensa satisfação que recebo hoje, dois professores convidados para o encerramento de nosso curso sobre Norbert Elias.

É com sincero contentamento que agradeço a presença do Professor Paulo Endo e o Professor Arthur Bueno, que gentilmente aceitaram estar aqui conosco com o intuito de aprimorar e aprofundar nossas considerações acerca da obra de Norbert Elias.

Gostaria ainda de agradecer a presença de todos, alunos e colegas professores da Fe-USP, que vieram prestigiar esse encontro.

De uma certa forma, estamos aqui desenvolvendo um exercício interdisciplinar tal como Elias nos ensinou.

Estamos promovendo uma reflexão entre dois representantes de áreas do conhecimento muito prezadas por Elias. Ou seja, a psicologia e a sociologia.

Mais do que isso, a participação desses dois colegas se dá em uma disciplina, no universo de discussão da área da Educação, área essa por excelência, interdisciplinar.

Seria bom lembrar que nossos encontros, durante o semestre, tiveram como objetivo maior a consolidação de um entendimento acerca dos processos socializadores a partir de uma perspectiva eliasiana, ou seja, os processos socializadores como um campo de investigação necessariamente que se compõe de indivíduos, estrutura social, sentido e história.

Apropriando-nos da perspectiva metodológica de Elias, aquela que aprendemos ser processual, relacional, de longa duração, interdisciplinar e multidimensional, estamos tendo a oportunidade de por em uso a caixa de ferramentas conceitual de Elias. As leituras realizadas, as discussões promovidas nessas oportunidades partiram sempre da inquietação de fazer desse autor um inspirador nas investigações da área da educação.

Tomando emprestado suas palavras acerca de A. Comte, “Como todos os pensadores Elias construiu a partir daquilo que seus antecessores já tinham produzido. Ninguém começa do nada, todos começam onde outros ficaram. Elias definiu questões de maneira mais clara e que possuem grande significação científica.”

Segundo seu próprio relato, uma certa posição de outsider na família, no exército, na cultura alemã e judaica fizeram com que ele adquirisse uma postura de distanciamento frente aos seus grupos de pertença, o que o auxiliou, a meu ver, em sua perspectiva e amadurecimento sociológico.

Considero que sua condição de nômade, sempre tentando conquistar posições na academia e reconhecimento intelectual acabou também por contribuir para a construção de referências sociológicas e filosóficas ecléticas, abertas e variadas.

Seu pensamento é essencialmente um amálgama entre aportes históricos, sociológicos e psicológicos.

Em síntese, seu nomadismo e desenraizamento acabaram por lhe dar oportunidade de certa originalidade de pensamento e certa liberdade em relação a vínculos institucionais universitários.

Tudo leva a crer que o isolamento acadêmico lhe fez bem.

Na imagem de W. Mills, Elias é um autor que possui muita imaginação sociológica, conseguindo explorá-la de forma invejável.

Como vimos, Elias possuía o talento e a sensibilidade de transformar questões de ordem pessoal em questões de ordem pública e depois, transformá-las em objeto de investigação sociológica.
Para alguns autores Elias é ambíguo, para outros, dialético, para outros ainda, um clássico que a despeito das limitações de sua contribuição, é uma referencia para os estudos sobre a modernidade ocidental e um paradigma acerca das relações indissociáveis entre individuo e sociedade.

Dois eixos de análise que constroem a personalidade intelectual do autor e que fazem dele objeto de nossa atenção.

Poderia afirmar ainda, aproximando-nos das palestras de hoje, que o projeto eliasiano é o cotejo minucioso, sob o terreno da historia, entre os insights das interações entre individuo e sociedade de Simmel e, a teoria do psiquismo humano de Freud, a fim de elaborar uma nova síntese teórica.

A ideia de uma modificação das estruturas da economia psíquica ligada a aquela das estruturas de poder revela essa dupla influencia.

Por um lado, sobre Simmel, raras referencias explícitas nos alertam acerca desse tributo, ainda que saibamos da importância desse clássico na sociologia alemã.

Por outro lado, Elias quer historicizar a construção social e histórica da personalidade psíquica própria das sociedades modernas.

A sociologia figuracional de Elias é atravessada, pois, por essas e outras muitas influencias.
O papel dos estudos figuracionais seria analisar as variações sociais e históricas do psiquismo humano em função das variações dos modelos culturais e societários.

Para Elias a sociologia é uma ciência que precisa se emancipar e romper com uma forma de pensamento metafísico, reificante e ideológico.

Elias, a nosso ver é um artesão do pensamento que consegue articular um amalgama de referencias disciplinares, tendo a oportunidade de construir um pensamento original e heterodoxo, ainda de todo não compreendido.

Sua coragem e atrevimento no campo da criação teórica fizeram com que ele se ocupasse com questões conceituais bastante pertinentes e necessárias, além de nos ensinar que as teorias e seu corpo de conceitos não deveriam ser um instrumental fixo e a-histórico.

A produção do conhecimento é dinâmica, segundo ele, e temos que nos esforçar para encontrar expressões e representações sociais mais próximas à realidade vivida.

Dessa forma, sua nova forma de olhar os fenômenos sociais introduz necessariamente uma critica e uma ruptura com antigos vocabulários, antigos paradigmas que visualizam indivíduos isolados, estruturas institucionais fixas e estáveis; apresenta a força dos enredos coletivos, o equilíbrio de forças entre indivíduos que disputam a sobrevivência social; provoca novos entendimentos sobre o poder de personalidades ou celebridades conduzirem a história; relativiza noções como poder e função com o intuito de explicitar as conexões de sentido do jogo social.

E, sobretudo, nos instrumentaliza para pensar de maneira mais profícua os processos de socialização e de individualização, fenômenos que expressam uma única realidade, ou seja, a construção do social.

É essa riqueza de raciocínio que pretendemos explorar agora a partir das contribuições dos professores Arthur Bueno e Paulo Endo.

Muito obrigada, mais uma vez.