quarta-feira, 27 de abril de 2011

Projeto de pesquisa: Livros e personagens negros na literatura infantil e juvenil

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

GILMARA AP. GUEDES DOS SANTOS DADIÈ


PROJETO DE PESQUISA:

LIVROS E Personagens negros na Literatura Infantil e Juvenil


Projeto de pesquisa: Mestrado, linha de pesquisa - Sociologia da Educação; orientadora: Maria Letícia Nascimento.

A ser analisado pelos alunos da Disciplina Projetos de Pesquisa: Leituras Sobre Métodos e Técnicas na sociologia da Educação, Profa, Dra. Maria da Graça Jacintho Setton.


SÃO PAULO

2011

SUMÁRIO

1. Título........................................................................................................... 3

2. Resumo........................................................................................................ 3

3. Introdução.................................................................................................. 4

4. Justificativa................................................................................................ 6

5. Fundamentação teórica............................................................................. 10

6. Plano de trabalho e cronograma de execução......................................... 14

7. Material e métodos..................................................................................... 15

8. Análise dos resultados................................................................................ 15

9. Referências bibliográficas.......................................................................... 16


1. Título: livros e personagens negros na literatura infantil e juvenil.

2. Resumo:

A presente pesquisa tem como objeto de investigação livros de Literatura Infantil e Juvenil (LIJ). Nosso principal objetivo é identificar e analisar livros de Literatura Infantil e Juvenil à disposição de crianças brasileiras, que apresentem personagens negros como protagonistas. A partir desta análise inicial pretendemos: Identificar quais e quantas destas publicações foram inseridas no Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE) e quantificar o número de obras publicadas após a Lei 10.639/03 (que determinou a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana em todos os níveis de ensino no Brasil). Realizaremos pesquisa bibliográfica e documental, sendo que esta segunda receberá também abordagem quantitativa. Visamos responder com a pesquisa as seguintes questões: Quais e quantas são estas obras? Ampliou-se a quantidade de obras que apresentam personagens negros como protagonistas após o ano de 2003? A lei 10 639/03 e o PNBE têm contribuído para o enriquecimento do acervo das escolas públicas com estas obras? Desejamos que esta pesquisa colabore para a realização de um levantamento minucioso de obras de LIJ que apresentem personagens negros como protagonistas. Estes dados poderão cooperar para a implementação, ampliação ou aperfeiçoamento de políticas públicas como o PNBE e também na implementação da Lei Federal 12.244 de 24 de maio 2010 (que obriga todas as instituições de ensino do país a possuírem uma biblioteca escolar). Esperamos que as informações levantadas tornem-se referência de consulta promovendo maior interesse, investimento, circulação e debate sobre estas obras.

Palavras chaves: Literatura Infantil e Juvenil, personagens negros, Lei 10.639/03, Programa nacional de bibliotecas escolares - PNBE.

Introdução:

A presente pesquisa tem como objeto de investigação livros de Literatura Infantil e Juvenil. O objetivo principal é identificar e analisar livros de Literatura Infantil e Juvenil à disposição de crianças brasileiras que apresentam personagens negros como protagonistas.

Nossos objetivos secundários serão:

- Identificar quais e quantas destas publicações foram inseridas no Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE) e distribuídas às escolas públicas brasileiras.

- Quantificar o número de publicações com esta temática publicada após a Lei 10.639/03.

Visamos responder às seguintes questões: Ampliou-se a quantidade de obras que apresentam personagens negros como protagonistas? A lei 10 639/2003 e o PNBE têm contribuído para o enriquecimento do acervo das escolas públicas com estas obras?

Neste projeto, definiram-se como livros de Literatura Infantil e Juvenil (a partir de agora denominados LIJ) à disposição de crianças brasileiras, aqueles publicados no Brasil destinados a crianças, escritos tanto por autores brasileiros, como estrangeiros (pois, algumas obras que apresentam o perfil desta pesquisa foram traduzidas de universos culturais afro-americanos ou africanos).

A Lei Federal nº 10.639/03[1], citada anteriormente, determinou a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana em todos os níveis de ensino no Brasil. Estes conteúdos devem ser ministrados em todo o currículo escolar, em especial nas matérias de Arte, Literatura e História.

Essa lei foi resultado de longas lutas e pressões do(s) Movimento(s) Negro(s) no Brasil e também devido às influências e pressões internacionais como os Direitos Humanos, movimentos sociais e em especial o compromisso assumido pelo Governo Federal em 2001 na III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, em Durban (África do Sul) na qual se comprometeu a realizar ações afirmativas para promover a inclusão e valorização da população negra no Brasil.

Considerando esta lei, cabe às políticas públicas, assim como às instituições de ensino, buscar uma escola mais inclusiva e comprometida com sua função social, abrangendo em seus programas o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana; questionando e revendo principalmente as ações discriminatórias e excludentes que vêem reproduzindo, pois pesquisadores das últimas décadas como: Sousa (2001), Carvalho (2009) e Cavalleiro (2001 e 2003), entre muitos outros, nos alertaram em seus estudos sobre a existência do preconceito e da discriminação[2] direta e indireta no interior da escola e sobre alguns dos impactos sociais desses fatos.

Para fins deste projeto, definimos negro(s), pessoa(s) que se auto-classifica(m) como parda(s) ou preta(s), sendo que estas correspondem a 45,3% da população brasileira, conforme dados do Censo 2000, realizado pelo IBGE. Optamos por utilizar esta terminologia, pois, não nos referimos apenas a “personagens brasileiros”, também não queremos que o discurso seja confundido com a afirmação: afrodescendente[3] somos todos nós, discurso que inclusive não apresenta nenhuma relação com o significado original desta palavra.

O termo afrobrasileiro presente na lei vincula-se à cultura africana e ao território de nascimento do indivíduo, marcando deste modo, um contexto sócio-cultural com viés identitário. Reelaborando, assim, o conceito de negro na medida em que reivindica uma identidade étnica e nacional, caracterizada não somente pela cor, mas também pela cultura.

O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) criado em 1997 sob a gestão do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) visa promover o acesso à cultura e incentivar a formação do hábito da leitura nos alunos e professores por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência.

Tem recursos financeiros originários do Orçamento Geral da União e da arrecadação do salário-educação. Este programa atende escolas públicas desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

Segundo dados da Câmara Brasileira de Livros (CBL) em 2007 os investimentos em livros do Governo Federal correspondeu a R$ 726,8 milhões (24% do total de vendas do mercado editorial brasileiro) [4], sendo que esta porcentagem não apresentou grandes variações nos últimos anos.

Justificativa:

Trabalho na Educação Infantil da rede pública de ensino há treze anos (oito anos como professora e cinco como coordenadora). Sou graduada em Letras e Pedagogia e especialista em Educação Especial.

Como professora sempre tive como prática ler diariamente histórias para as crianças e proporciona-lhes livre acesso a livros de Literatura Infantil.

No ano de 2003, durante o momento da leitura da história com as crianças (de cinco e seis anos), ouvi uma frase relacionada a um livro que lia, com personagens brancas e louras na qual havia uma personagem negra como coadjuvante. Uma criança negra afirmara: “Essa menina é feia!” (referindo-se a personagem negra da obra), surpresa, lhe questionei sobre o porquê de sua afirmação:

_ “Porque ela é preta!” respondeu a menina.

Diante de tal situação me questionei sobre a qualidade e a diversidade das imagens nos livros que oferecia às crianças, sobre os valores intrínsecos que esses transmitiam. Recordei-me que poucos (pouquíssimos) livros dos quais as crianças tinham acesso possuíam diversidade étnica e cultural de personagens e que deste modo, não estaria contribuindo para a construção de uma identidade étnica[5] positiva nesta esta criança.

Diante disto, busquei nas bibliotecas escolares e nas sugestões de colegas outros livros de LIJ, adequados à Educação Infantil, que abordassem a temática ou possuíssem personagens negros como protagonistas. Conforme confirmam as pesquisas de Sousa (2003), poucos livros com estas referências foram encontrados, totalizando cinco, alguns com representações bastante estereotipadas ou preconceituosas em relação à personagem negra.

Sendo coordenadora, várias vezes as professoras me procuraram buscando apoio para trabalharem a temática étnico-racial em sala de aula, pois vivenciavam em suas turmas de quatro, cinco ou seis anos, situações latentes de discriminação ou preconceito.

Algumas crianças negras, devido a situações de discriminação que experienciaram se recusavam a vir à escola, uma delas acordava chorando e gritando no meio da noite dizendo detestar a sua cor, outras se isolavam do grupo ou choravam ao sentir-se rejeitadas, muitas se achavam feias e desejam apresentar outras características físicas. Uma menina veio transferida para nossa escola devido ao preconceito vivenciado na escola anterior.

Tudo isso demonstrava que além de não conseguirmos auxiliar a criança negra na construção de sua identidade étnica, também não estávamos contribuindo para a construção de noções de respeito, tolerância e alteridade nas crianças não negras. Cabe ressaltar, que tais situações não ocorrem exclusivamente na escola onde trabalhava, pois segundo apontou Cavalleiro (2003), expressões de racismo e preconceito ocorrem cotidianamente em escolas de Educação Infantil.

Além de eventos como estes, uma professora em 2005, visando trabalhar esta temática me pediu apoio para encontrarmos livros com contos africanos, em nosso imenso acervo de biblioteca escolar, não encontramos nenhuma obra.

Após a realização de diversos cursos sobre a temática da educação para a diversidade, a educação étnico-racial e da aplicação da Lei 10.639/03, criei em 2010, como trabalho de conclusão de um curso de extensão da UNESP, um blog que aborda a temática da diversidade na escola.

A postagem que se refere a livros de LIJ com personagens negros recebeu o maior número de acessos, foram mais de três mil acessos entre maio de 2010 e abril de 2011, (considerando os mais de onze mil acessos recebidos pelo blog)[6]. Esta página é acessada principalmente por professores, formadores de professores e membros de O.N.G. O pico dos acessos nesta postagem ocorreu nos meses de maio e novembro.

Tudo isso me motiva a realizar esta pesquisa e ao mesmo tempo demonstra a necessidade que temos em conhecer estas obras de LIJ, que muitas vezes, não se encontram em destaque nos meios de divulgação e catálogos de grandes livrarias ou editoras.

Sabemos que não cabe a LIJ resolver conflitos sociais, mas, cremos que na escola, ela também pode contribuir para que comecemos a refletir e desconstruir com as crianças alguns conceitos e valores presentes na sociedade. E suscitar na escola, debates e reflexões sobre esta temática.

Ressalto que sou negra (afrodescendente), e embora tenha nascido em São Paulo, toda minha família nasceu e pertence à Comunidade Quilombola de Campo Grande [7].

Esperamos contribuir para a realização de um levantamento minucioso de obras de LIJ que apresentam personagens negros como protagonistas. Estes dados poderão colaborar para a implementação, ampliação ou aperfeiçoamento de políticas públicas como, por exemplo, o PNBE e também na implementação da Lei Federal 12.244 de 24 de maio 2010 (que exige que todas as instituições de ensino do país, públicas e privadas, de todos os níveis de ensino, possuam uma biblioteca escolar no prazo de máximo de dez anos).

Almejamos que as informações levantadas tornem-se referência de consulta para secretarias de educação, escolas, professores, editoras, editores, escritores, pesquisadores, leitores, pais, O.N.G.s, entre outros; possibilitando o maior conhecimento, interesse, circulação e debate sobre estas obras. Permitindo que mais crianças e jovens tenham contato com livros de LIJ e com a temática da diversidade racial e cultural.

Aspiramos também, que mais escritores, editores e editoras se envolvam com esta temática e que estejam atentos aos valores veiculados por elas. Principalmente àquelas editoras que recebem subsídios do governo, que se dediquem na publicação e divulgação destas e de novas obras, junto ao público em geral, fundamentalmente junto às escolas e professores.

Pois, diversos estudiosos já apontaram a importância de se proporcionar às crianças das mais diferentes etnias o contato na escola com imagens positivas de pessoas negras. No caso das crianças negras isso lhes possibilita construir uma auto-imagem positiva em relação a si mesma, e ao mesmo tempo, faz com que se sintam valorizadas no interior da escola.

Proporcionar às crianças não negras o contato com este material lhes permite crescer tendo referências positivas das diferentes etnias e culturas, sendo este um objetivo primordial da escola: a educação para a valorização diversidade, o aprender a ser e conviver.

Cavalleiro (2005) afirma após diversas pesquisas que a escola ainda não vem oferecendo às crianças negras oportunidades para que construam sua identidade e percebam seu grupo racial positivamente como integrante da sociedade brasileira. E embora haja livros de Literatura Infantil que apresentam personagens negros/as como protagonistas, estes poucos, muitas vezes, não chegam aos alunos ou não se tornam objetos de tematização, apreciação e análise.

Em pesquisa realizada pelo CEERT[8] no ano de 2007, em escolas municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental nos municípios de São Paulo, Salvador e Belo Horizonte, os livros LIJ foram os elementos mais apontados (76%) pelos professores, coordenadores e diretores como principal recurso para a implementação da Lei 10.639/03, porém, somente dezesseis títulos foram citados espontaneamente por estes profissionais.

Ao serem questionados diretamente sobre a existência de alguns títulos, em São Paulo, por exemplo, somente 18% dos professores responderam afirmativamente sobre a existência das obras; 66% disseram desconhecer a existência das obras nas escolas em que lecionavam, também foi São Paulo o único lugar onde professores (14%) disseram não se lembrar da existência ou não dos livros mencionados.

Cabe ressaltar que em termos absolutos, segundo o IBGE, a cidade de São Paulo é a que possui o maior número de pessoas negras (3.565.800). E nas suas escolas municipais, em todas as modalidades de ensino (Infantil, Fundamental e Médio) crianças e jovens negros correspondem a mais de 50% dos alunos matriculados[9].

Não ter contato com obras e imagens que valorizem a sua cultura e corporeidade, além de não auxiliar o aluno negro de modo positivo na construção de sua identidade, também alimenta o imaginário dos alunos não negros de maneira distorcida:

(...) a disparidade nas representações de personagens negras e brancas pode ser fonte de rebaixamento de auto-estima e um facilitador para a construção de autoconceito negativo por parte de crianças negras. E, diametralmente, que pode ser fonte de construção de um sentimento de superioridade por parte das crianças brancas, pelo fato de terem pele branca e fazerem parte, portanto, do grupo que constitui maioria em ilustrações e referências culturais e histórica nesse tipo de material- o que sinaliza poder, beleza e inteligência. (Cavalleiro, 2005, p. 83)

O que lhes leva a desenvolver imagens distorcidas dos valores sociais, acreditando na naturalidade das desigualdades sociais, devido à cor da pele.

Fundamentação teórica:

Conforme Abramovich (1993) a leitura de histórias é fundamental para que o indivíduo possa entrar em contato com outras culturas, lugares, tempos, óticas, realidades, éticas, épocas; experimentar diferentes emoções e sensações. Através das histórias é possível suscitar o imaginário, ter novas idéias, experiências e buscar soluções para diferentes questões. Ela possibilita a descoberta de vivências e conflitos, impasses e soluções.

Na Europa a LIJ nasceu no século XVII em um momento de grandes mudanças sociais, como a ascensão da família burguesa, o novo status concedido à infância e a reorganização da escola, deste modo, vinculou-se a princípios da classe média e a valores ideológicos visando à educação dos jovens (Zilberman, 2003).

No Brasil ela aparece no final do século XIX e início do XX, momento em que convergem políticas de modernização do país como, por exemplo: a incorporação de levas de imigrantes, extinção do trabalho escravo, o crescimento e diversificação da população urbana. A leitura torna-se um elemento valorizado na sociedade e a escola passa a exercer um papel social e ideológico fundamental, assim como os livros didáticos e os de Literatura Infantil.

Os primeiros personagens negros aparecem nas obras de LIJ no final da década de 20 e eram representados em condições subalternas, não demonstravam conhecimento do mundo da escrita ou erudição.

Estas representações não se alteraram expressivamente ao longo do século XX. Bazzanella (1957) descreve que o negro é retratado em livros de LIJ desempenhando condições subalternas relacionadas à escravidão. Rosemberg (1980) aponta que entre 1955 e 1975 o negro ainda é representado em situações de trabalho (mulheres domésticas e homens com trabalhos manuais), assinala o negro como escravo e representado com traço tipificador (como se todos fossem iguais).

Negrão (1987) e Negrão e Pinto (1990) abordam a temática e apontam que a representação recebida pelas mulheres negras era invariavelmente na condição de empregada doméstica, sendo gorda, vestida com avental e lenço na cabeça. Exemplo típico seria a personagem Tia Anastácia, de Monteiro Lobato. O negro também era representado como categoria social.

Bazilli (1999) descreve que permanecem inalteradas as representações do negro em livros de LIJ. Sousa (2005) afirma que a partir de 1975 surge uma representação de LIJ mais realista, demonstrando inclusive, conflitos sociais e raciais vivenciados por personagens negros, mas nem por isso, tal representação deixou de ser preconceituosa. No final da década de 80 as obras, segundo Sousa, começam a enfatizar aspectos positivos da cultura negra, como capoeira e mitologia dos orixás, uma nova tendência começa a emergir.

A representação do negro neste contexto assume papel fundamental, pois conforme assinala Bakhtin (1992), as narrativas funcionam como formadoras de consciência, deste modo, o contato com a leitura de histórias provoca reflexões, sensações e formas de identificações que agregam valores à consciência do leitor, gerando valores éticos e estéticos.

Abramovich (1993) questiona o excesso de estereótipos europeus que permeiam as imagens de nossa Literatura Infantil, aponta a importância de ficarmos atentos a eles e a necessidade de auxiliarmos as crianças a perceberem isso, pois por tais imagens se reforçam preconceitos, intolerâncias e fortalece um imaginário segregador. Alega que o texto literário auxilia na consolidação de valores culturais, morais e padrões de beleza, reforçando valores sociais éticos e estéticos.

Rosemberg (1985) corrobora tais idéias ao afirmar que a LIJ é um campo eficaz na construção de estereótipos, padrões e reproduções de valores sociais, além de contribuir para a construção ideológica, sendo assim, ela também explicita pensamentos, padrões e valores de uma classe social. Azevedo (1986, in. Zilberman) afirma, inclusive, que através de um texto literário é possível conhecer o autor, a classe a que pertence ou representa, suas concepções, valores e preconceitos.

Neste ponto da pesquisa dois autores trarão contribuições a nossa reflexão, serão eles: Iser Wolgang que discorre sobre o jogo literário e o imaginário, e Pierre Bourdieu que discute sobre a importância do poder simbólico exercida pela arte.

Outro elemento significativo nos livros de LIJ são suas imagens, pois as imagens vistas pelas crianças aliada ao contexto histórico e social influenciam diretamente no imaginário a ser construído por elas, e serão fundamentais para a constituição de valores.

Buoro (2002) nos incita a observar as imagens contidas em um livro como algo profundamente significativo, estas não devem ser subestimadas em sua potencialidade comunicativa, mas ao contrário, devem ser exploradas e lidas. O que implicaria ganhos no processo educacional.

Perrotti (1997) cita a preocupação de que as imagens são as primeiras formas de percepção das crianças no ato das primeiras leituras. No entanto, embora tenhamos livros ricos visualmente, temos também aqueles que além de não contribuírem para a sensibilidade do olhar do leitor, possuem imagens estereotipadas, preconceituosas, pobres em sugestões que só servem para vender livros, afirma. Para Maffesoli (1996) o estético é primordial, já que ele sustenta o jogo das aparências, usos, costumes, vínculos e desejos coletivos. Ao mesmo tempo, converte-se em uma forma de dominação astuta, pois impõe uma ordem ideológica através de estratégias sutis.

Todos esses autores demonstram a importância que a imagem e o texto em LIJ exercem no imaginário das crianças, por isso, é essencial a diversidade étnica inclusive nos livros infantis.

Proporcionar às crianças, negras ou não, o contato com livros que valorizem as diferenças e questionem estereótipos e valores cristalizados irá contribuir significativamente para uma nova construção de imaginário. Confirmam esta afirmação Ribeiro (1996, p. 172) que acredita que “os atos imaginativos antecedem mudanças em nossas atitudes e ações” e Sousa, que assinala:

(...) as imagens que moram em nossas mentes desde a infância influenciam nossos pensamentos durante a vida e podem contribuir (se não forem estereotipadas, inferiorizadas) para a auto-estima e aceitabilidade das diferenças visando uma vida adulta feliz. Para isso essas imagens precisam mostrar nossa “cara”, força e cultura de todos. (Sousa, 2002, p. 196)

Algumas dissertações que abordam diferentes focos desta temática também poderão contribuir neste trabalho, serão elas: dissertação Nas tramas da imagem: um olhar sobre o imaginário da personagem negra na Literatura Infantil e Juvenil, de Sousa (2003) USP; a dissertação defendida por de Ramos (2007) na UNIRIO, com o título: Construção da identidade étnico-racial: o papel da literatura infantil com protagonistas negros e histórias de culturas africanas.

A dissertação de França (2006), defendida na UFMT com o título: Personagens negras na literatura infantil brasileira: da manutenção à desconstrução do estereótipo. A dissertação de Maestro (1999) defendida na UFES: Os contos de fadas no imaginário da criança negra e por fim a dissertação de Correia (2009) defendida na UNEB: As contribuições da Literatura Infantil na construção das identidades de crianças.

A Literatura Infantil será essencial no contexto de nossa pesquisa, mas cabe ressaltar que não visamos considerá-la a partir de um olhar didatizante, mas sim como elemento cultural, constituído historicamente, arte essencial à formação do indivíduo e que está presente nas diversas instituições públicas de ensino, devido às políticas públicas de distribuição de livros de LIJ.

Acreditamos, conforme afirma Stephens (citado por Silveira) que “mesmo aqueles livros que não se propõem a ‘ensinar’ ou a ‘ajudar a criança a enfrentar problemas de sua vida’ tem ‘uma ideologia implícita, usualmente na forma de estruturas sociais assumidas e hábitos de pensamento’.” (Silveira, 200, p. 175).

Por isso, é imperativa a necessidade de refletirmos sobre os livros de LIJ e principalmente sobre as contribuições que estas obras podem nos oferecer no processo educativo; sobre como podem auxiliar na construção de uma auto-imagem positiva de nossas crianças negras e de como podem auxiliar na valorização da imagem do negro/a em relação às outras crianças, independentemente de sua cor/raça, pois estas poderão confrontar o imaginário a respeito do negro e as imagens observadas assim como as leituras realizadas.

Plano de trabalho e cronograma de execução:


2º semestre 2010

1º semestre 2011

2º semestre 2011

1º semestre 2012

2º semestre 2012

1º semestre 2013

Cumprimento dos créditos.

X

X





Levantamento bibliográfico

X

X

X




Elaboração de referencial teórico.


X

X

X

X


Pesquisa documental



X




Organização e análise dos dados.


X

X

X



Redação final do texto




X

X


Revisão de conteúdo





X


Revisão de texto.






X

Depósito






X

Prazo máximo para qualificação: maio de 2012.

Prazo máximo para defesa: agosto de 2013.

· Elaboração de sínteses a partir das leituras realizadas.

· Realização de monitoria – PAE (1º semestre 2011)

· Elaboração de textos para publicação e para apresentação de resultados em eventos científicos.

· Apresentação de resultados da pesquisa em eventos científicos (se possível).

· Participação em eventos científicos, grupo de pesquisa e reunião de orientandos.

· Reuniões regulares para orientação e discussão do referencial teórico.

Material, métodos e análise dos resultados

Realizaremos pesquisa bibliográfica e documental, sendo que esta segunda receberá também abordagem quantitativa. Neste projeto, a pesquisa documental refere-se a pesquisas em documentos e listagens relativas ao Programa Nacional de Bibliotecas Escolares do MEC.

O levantamento e/ou obtenção dos livros de LIJ será realizada em bibliotecas públicas e escolares, feiras de livros, livrarias, sebos, catálogos de editoras, através da internet (blogs, portais, sites e páginas institucionais), em propagandas, revistas especializadas, etc.

Prioritariamente serão obtidos para análise através de empréstimos em bibliotecas. Também solicitaremos que alguns exemplares sejam cedidos pelas respectivas editoras, caso não seja possível, serão comprados pela pesquisadora.

Após a seleção e análise, coletaremos alguns dados sobre cada obra considerando os seguintes elementos: título, nome e nacionalidade do autor, ano de lançamento, nome e nacionalidade do ilustrador, editora, país da versão original do livro, se a obra faz parte do acervo do PNBE e em que ano foi inserido no programa, Continente onde está ambientada a história, além de mais quatro categorias que estão sendo elaboradas (estarão relacionadas ao gênero textual e a história).

Confrontaremos os dados coletados, assim como a pesquisa e revisão bibliográfica, a fim de fundamentar este trabalho. Acreditamos que a partir da análise destes dados será possível respondermos as questões apresentadas na problemática da pesquisa.

Referências bilbiográficas:

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: Gostosuras e bobices. 3. ed. São Paulo: Scipione, 1993.

BAZILLI, Chirley. Discriminações contra personagens negros na literatura infanto-juvenil brasileira contemporânea. São Paulo, Dissertação de mestrado em Psicologia Social (PUC-SP), 1999.

BAKTHIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BAZZANELLA, W. Valores e estereótipos em livro de leitura. Boletim do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Rio de Janeiro, vol. 2, n. 4, mar., 1957.

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 1989.

BUORO, Anamélia Bueno. Olhos que pintam: a leitura de imagem e o ensino da arte. São Paulo: FAPESP/ EDUC/ Cortez, 2002.

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[1] Em complementação a esta lei há a Resolução nº1/2004 do Conselho Nacional de Educação (CNE) que aprova o parecer CNE/CP3/2004 o qual “Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”.

[2] O termo preconceito refere-se a idéias e valores pré-concebidos que temos do outro sem de fato conhecê-lo. O preconceito encontra-se no âmbito da doutrina, dos julgamentos, já a discriminação é a adoção de práticas que efetivam o preconceito. A discriminação indireta, segundo Gomes (2005), refere-se a práticas administrativas, empresariais ou de políticas públicas que, aparentemente neutras, são dotadas de capacidade discriminatória. Exemplos: o alto índice de meninos negros que não conseguem concluir o Ensino Fundamental ou o baixo índice de ingresso de alunos advindos de escolas públicas nas universidades públicas.

[3] O termo afrodescendente nasceu da articulação e negociação entre os descendentes de africanos no mundo. Refere-se à população da diáspora africana, ou seja, denomina descendentes de africanos nas diversas partes do mundo. Foi um termo muito utilizado na Conferência de Durban –África do Sul, 2001.

[4] Dados em disponíveis em Portal Imprensa UOL.

[5] Segundo Gomes (2005) a identidade étnica é uma construção social, histórica, cultural e plural que se desenvolve gradualmente a partir das relações e experiências que se estabelecem. No Brasil construir uma identidade negra positiva é um desafio. É na infância que se estruturam as bases para a construção da identidade e esta se relaciona diretamente a auto-estima; se uma criança não se sente respeitada, valorizada ou representada, está sendo discriminada; o que repercutirá na sua formação de identidade.

[6] Dados estatísticos do Blogger e Google Analytics.

Endereço do Blog: http://diaadiadaeducacao.blogspot.com/

[7] Localizada no município de Santa Terezinha – Bahia.

[8] Centro de Estudos das Relações de Trabalho e desigualdades.

[9] Dados obtidos em: Orientações Curriculares e expectativas de aprendizagem étnico/racial. Sec. Municipal de Educação da cidade de São Paulo (2008).

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