IV
congresso de Moda
SENAI
– Rio de Janeiro
17
de setembro de 2012
Conferência proferida pela Profa.
Maria da Graça Setton
Título:
A interiorização silenciosa das disposições de habitus
Primeiramente,
boa tarde a todos
É
com grande satisfação que aceitei o convite dos organizadores deste
evento para estar aqui presente com vocês.
O
que trago é uma reflexão que venho travando com meus alunos do
Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de Educação
da USP, no interior do grupo de pesquisa denominado Praticas de
Socialização Contemporânea, coordenado por mim, acerca dos
processos e estratégias de socialização, mas especificamente as
estratégias pouco visíveis e silenciosas da educação que incidem
sobre nosso comportamento ou nas nossas práticas de cultura.
A
pesquisa que deu ensejo a essa discussão, refere-se a uma Iniciação
Científica, realizada por uma graduanda em Pedagogia, da FE-USP; tal
estudo se insere ainda no escopo de investigações realizadas acerca
de outras práticas ou disposições de habitus,
entre elas as disposições de gosto relativas à moda, com base em
estratégias difusas e ocultas de socialização.
Portanto,
passam notadamente, pelo exercício de um aprendizado a partir de um
convívio e ou de uma impregnação cultural silenciosa.
Vale
ressaltar que o que trago ainda para vcs nessa palestra, acerca das
práticas relativas à moda podem e devem ser estendidas para todas
as práticas de cultura.
Mas
....o que é mesmo uma prática de cultura?
Trata-se,
no meu entender, de todo tipo de comportamento cotidiano, toda ação
que faz parte da rotina dos indivíduos ou dos grupos, toda prática
que, compondo o dia-a-dia de cada um, explicita um modo
de ser e de fazer
dos agrupamentos humanos.
Assim,
as práticas
de cultura
em geral podem enquadrar-se nas ações mais prosaicas
como, por exemplo, as maneiras de se alimentar, de se vestir ou
arrumar o interior das casas
podem
enquadrar-se nas escolhas mais extraordinárias,
como as relativas à participação em uma associação política,
religiosa ou artística, podem enquadrar-se numa opção de lazer ou
turismo ou podem se expressar ainda nos comportamentos relativos à
escolha de um livro para ler, bem como a tendência por uma expressão
estética ou de estilo.
Lembro
ainda como expressões de praticas de cultura toda sorte de ações,
ora conscientes ora inconscientes, que expressam um movimento
corporal quase instintivo, como o andar, o sentar, o falar, o
gesticular com as mãos, o ato de fazer um sinal da cruz em frente a
uma igreja ou mesmo beijar uma mesusá
ao
sair ou entrar em casa.
Neste
sentido, o que quero discutir aqui com vcs são aspectos relativos ao
processo de transmissão difusa de disposições de cultura que irão
condicionar uma prática social como a da moda.
Trata-se,
sobretudo, de uma investigação que procura dialogar com a teoria
disposicionalista empreendida por Pierre Bourdieu e Bernard Lahire,
entre outros, com a intenção de observar e aprofundar os
conhecimentos sobre estratégias educativas pouco investigadas, mas
muitas vezes involuntárias capazes de construir disposições de
habitus.
Preparei
para hoje uma apresentação montada em três momentos.
No
primeiro deles vou justificar
esta problemática
Em
seguida,
vou me ater aos mecanismos fundamentais que possibilitam o processo
de transmissão e incorporação de valores do gosto relativo à moda
e,
Por
ultimo,
vou me debruçar sob as condições de possibilidade de sucesso
destes processos de incorporação de disposições de cultura ou
disposições de habitus.
Assim
sendo, valeria iniciar observando que dentre os estudiosos que se
ocupam dos processos educativos, as reflexões acerca das estratégias
difusas e insensíveis na formação das disposições de habitus
ainda são pouco expressivas.
Grande
parte da produção socioantropológica sobre o assunto acaba por
revelar, sem verificação empírica, estilos de vida e de gosto,
revelações essas que ainda que relevantes, pouco nos auxiliam na
sistematização teórica de como eles se constroem.
Parto
do pressuposto que a moda e seus estilos são bons exemplos de
práticas culturais apreendidas de maneira insensível, desde a mais
tenra infância, no interior de instituições variadas, como a
família, a escola, clubes e demais espaços de convívio,
predominantemente realizadas nas relações de sociabilidade não
formais e não intencionais, no entanto, capazes de deixar marcas
profundas nas disposições de gosto dos indivíduos.
A
partir daí, dialogando com as contribuições de Pierre Bourdieu e
Bernard Lahire, busquei compreender melhor os mecanismos pelos quais
as disposições de gosto são transmitidas e incorporadas mesmo
quando não se tem a intenção explícita de educar/socializar em
certa direção.
Trata-se,
no meu entender, de um empreendimento necessário para avançar nas
questões teóricas relativas aos processos socializadores
silenciosos.
Assim
sendo, segundo Lahire, desde Bourdieu, a teoria sociológica vem
aceitando sem questionamentos a teoria da transmissão cultural do
gosto.
Admite
que Bourdieu registrou o maior esforço nesta direção, mas alerta
contudo, que precisamos aprender mais sobre como essa transmissão se
realiza.
De
acordo com Lahire, a disposição de gosto é uma realidade que deve
ser observada diretamente pelo pesquisador. Ela exigiria de nós um
trabalho de identificação dos princípios,
estratégias
ou modalidades práticas que geram a incorporação de uma
diversidade de disposições e gostos.
Nesse
sentido, inspirando-me nas proposições críticas de Lahire, julgo
que a noção de disposição de cultura, entre elas a da moda deve
ser melhor investigada a fim de poder avançar na compreensão das
estratégias socializadoras, em especial aquelas difusas, silenciosas
e ocultas.
Por
outro lado, no que se refere às contribuições de Bourdieu,
lembro
que
para ele, disposições de cultura exprimem, em primeiro lugar, o
resultado de uma ação cognitiva e organizadora das mentes,
apresentando um sentido próximo ao de palavras como estrutura
designa
uma maneira de ser, um estado habitual, em particular do corpo e,
sobretudo, uma predisposição, uma tendência, propensão ou
inclinação construída ao longo dos processos socializadores, às
vezes à custa de dores e sofrimentos individuais.
Segundo
Bourdieu, na expectativa de reconhecimento ou de obediência às
exigências de um espaço social específico, os agentes ver-se-iam
muitas vezes predispostos a agir segundo as demandas exteriores.
A
ação social seria, portanto, produto de um sentido
prático,
um ato realizado a partir das injunções de cobranças de um
contexto cultural singular.
Neste
sentido, disposição cultural e ou de gosto, entre elas às
relativas à moda, para Bourdieu, refere-se a um conjunto de esquemas
classificatórios,
apreendidos
de maneira sistemática ou de maneira difusa
no
seio da família ou no interior de instancias produtoras de valores
morais e comportamentais
com
forte poder formador e identitário.
Numa
tentativa de definição, Bourdieu afirma que disposição é o mesmo
que exposição.
É
porque o corpo é exposto,
posto em perigo no mundo e constantemente confrontado com o risco da
emoção, que se vê obrigado a levar o mundo a sério. Segundo ele,
aprendemos com o corpo. A
ordem social inscreve-se nos corpos através desta confrontação
permanente, mais ou menos dramática, mas que dá sempre grande lugar
à afectividade e, mais precisamente, às transacções afectivas com
o meio ambiente social.
Para
os interesses desta discussão, proponho então, agora, já na
segunda parte desta palestra mobilizar conceitos, autores e uma
sensibilidade do olhar para estudos sobre processos socializadores
difusos e pouco sistemáticos das praticas de cultura.
E
nessa direção é possível afirmar que além de teóricos como
Pierre Bourdieu e Bernard Lahire, outros como Peter Berger e Thomas
Luckamann, ambos sociólogos europeus, mas expatriados nos EU, e
autores do livro A
construção Social da Realidade,
contribuem nas reflexões desenvolvidas acerca dos processos
socializadores difusos e silenciosos.
Mais
especificamente, para Peter Berger e Thomas Luckmann a transmissão e
ou incorporação de um patrimônio cultural imaterial, entre eles,
as disposições de gosto, devem ser compreendidos na
e pela
interação simbólica entre grupos e indivíduos.
Esta
perspectiva permite apreender o processo de constituição das
disposições culturais de gosto, ou seja, a construção dos
esquemas mentais e comportamentais dos sujeitos tendo como base a
reciprocidade, a troca e a interação simbólica entre os
indivíduos.
Segundo
esta perspectiva, o mais íntimo
dos traços de personalidade ou dos comportamentos, as mais íntimas
das práticas individuais só podem ser apreendidas se detectarmos a
rede
de relacionamentos,
a configuração social e simbólica de indivíduos com seus
semelhantes.
Nesta
linha de raciocínio, perguntamos então objetivamente, como se
formam as disposições de gosto relativas à moda ou demais esquemas
de ação naturalizados, tal como os relativos à sexualidade ou à
religiosidade?
Tentando
responder a essas questões, penso que devemos privilegiar dois
momentos
Em
primeiro lugar devemos recuperar as modalidades
ou tipos
de situações de transmissão e incorporação de heranças
disposicionais do gosto e entre essas modalidades destaco a
importância da linguagem
e os modos de reiteração
de sentidos desta linguagem
Em
segundo lugar devemos considerar as condições
de possibilidade,
os alcances e limites dessas condições de transmissão e
incorporação, ou seja, a questão da autoridade
e os aspectos legitimadores
que envolvem essas estratégias.
Vejamos,
em relação ao aspecto da linguagem,
concordando com os autores afirmaria que ela é responsável pela
comunicação entre os indivíduos, ou seja, é responsável pela
comunicação entre um eu
e um outro,
e
por
extensão
a
linguagem ou os sistemas simbólicos, suas categorias do pensamento e
julgamento, tornam real e objetivo o mundo, dão um sentido coletivo
ao nosso mundo
Enquanto
sistema de sinais e significados apreendidos desde a mais tenra
infância, a linguagem falada e ou gestual não é neutra, ela nos
apresenta um mundo dotado de sentido e significados.
Em
outras palavras, poderíamos afirmar que os sistemas simbólicos ou a
linguagem podem ser concebidos de três maneiras.
Primeiro,
como estruturas de orientação da ação ou instrumentos
de conhecimento
do mundo dos objetos e seres que nos rodeiam.
Neste
sentido, a língua, a arte ou a religião são sistemas de símbolos
já estruturados, sistemas que todos nós temos acesso e fazemos uso
igualmente.
A
segunda maneira de conceber os sistemas simbólicos refere-se à
compreensão de estruturas
estruturadas
como um código
de comunicação
aqui
salientamos a natureza das equivalências entre sons e sentidos,
passível também de ser utilizada por todos.
Todavia,
esses símbolos de comunicação e conhecimento do mundo expressos na
linguagem não se reduzem à submissão passiva e consciente. O lento
processo de aquisição de referências inculcadas pelas instâncias
produtoras de cultura é resultado de experiências inconscientes.
A
família, a escola, o grupo de pares e mais recentemente as mídias,
cada um à sua maneira, imporiam, sem coerção ou consciência, um
sistema integrado de padrões de comportamento e representações.
Enquanto
produtos de determinações sociais, os bens culturais produzidos em
diferentes matrizes, submeteriam o agir e o pensar dos agentes de
forma lenta e velada.
Nesse
sentido, os sistemas simbólicos, assim concebidos, tornariam
possível o consenso sobre a realidade que nos cerca.
Símbolos
das mídias igualmente como a linguagem do cotidiano são
instrumentos de integração do mundo. Enquanto instrumentos de
conhecimento
e de comunicação
são responsáveis por parte do consenso acerca do sentido do mundo
social.
Desta
forma, qualquer tema significativo que a linguagem
abranja reiteradamente – entre eles as disposições relativas ao
gosto - poderá ser definido como um símbolo a ser seguido e tomado
como evidente e natural.
Não
obstante, para Berger e Luckmann, os processos de constituição
simbólica do mundo, por estarem sempre em constante construção
necessitam de reforço contínuo.
No
que se refere às práticas da moda, estratégias conscientes e
inconscientes – como por exemplo, a rotina das compras, a escolha
de uma vestimenta nos rituais festivos familiares ou grupais, a
consulta à experts no assunto - auxiliam a fornecer um ambiente de
tipificar escolhas, e de certa forma auxiliam na sedimentação de
tradições relativas à moda ou a um estilo.
Em
outras palavras, o conhecimento expresso reiteradamente do que é
próprio ou impróprio para se usar em tal ou qual ocasião ajudaria
a construir uma realidade, ordenando o mundo da moda que será
apreendido como um fato; e, em seguida este universo será
interiorizado na forma de uma disposição de gosto, como verdade.
Assim
sendo, quanto mais importante esse acervo de disposições para a
preservação da memória e estabilidade de um grupo de estilo, mais
cuidadoso será esse processo de fixação e legitimação;
mais
atentas serão as estratégias de sedimentação e reiteração de
uma tradição de estilo.
E
agora, indo para a terceira e ultima parte desta apresentação,
lembro que se até agora apresentei as estratégias lingüísticas e
cognoscitivas de transmissão de um corpo de símbolos e valores
imateriais, cumpre agora considerar as condições
de possibilidade
que viabilizam os processos de incorporação de disposições de
cultura, que embora sejam pouco perceptíveis, revelam-se poderosas e
insidiosas.
Como
primeira condição
de possibilidade
que assegura a permanência de certos aspectos de uma cultura
imaterial da moda, lembraria a regularidade em que elas se
apresentam.
Ou
seja, o ato de consumir a moda, o ato de se vestir de determinada
forma, escolher o que comprar e como combinar nossas roupas,
acessórios ou utensílios, revelam idiossincrasias grupais que são
continuamente repetidas, seja em grupo ou individualmente.
A
regularidade destas práticas expressa uma assertiva sobre a
identidade de um coletivo ou de um grupo de estilo, reforçando sem
conflito ou divergência, um gosto ou disposição de um jeito
determinado de como e o quê consumir.
Tempo,
regularidade, freqüência, rotina, são algumas noções que
expressam condições sociais favoráveis à construção de maneiras
de ser
trabalham
a favor de uma orquestração de sentidos em que evidencias
exteriores compõem representações acerca de um gosto.
Não
obstante, nem a linguagem
nem a reiteração
de valores da moda teriam força suficiente se não contassem com os
recursos de um sentido de autoridade
que perpassam todos eles.
Seria
necessário pois chamar atenção e compreender as funções de
domínio dos guardiões da herança cultural de um gosto.
Grupos
de pares, estilistas, ícones da moda, celebridades.....
Assim
sendo, indo além dessas duas formas de conceber os sistemas
simbólicos, ou seja, como instrumentos de conhecimento e
comunicação, poderíamos compreender também a linguagem como
instrumentos
de controle ou dominação.
Por
exemplo, a linguagem dos ícones midiáticos da moda, linguagem essa
expressa em comportamentos e estilos de ser e agir, como parte
integrante da cultura da moda, são mais que instrumentos de
conhecimento
e comunicação
deste
universo, podem ser instrumentos de poder.
Isto
é, todos os atos comunicativos, entre eles os das celebridades, não
estão destinados apenas a serem compreendidos.
São
também signos de autoridade a serem correspondidos.
Nesse
sentido, é preciso alertar para a necessidade de se observar quem
faz uso da linguagem da moda, de onde se fala sobre moda e quando se
fala sobre ela.
Afirmar
que toda linguagem de estilo deve ser vista dentro de um contexto
social de produção e veiculação é o mesmo que afirmar que ela
Terá
sempre um valor diferenciado, dependerá sempre da relação de
forças entre os locutores concorrentes no mercado da moda.
As
relações de comunicação podem então se constituir em relações
de forças que dependem, na forma e no conteúdo, do poder material e
simbólico acumulado pelos agentes
envolvidos nessas relações.
Dito
de uma outra forma, a imposição do discurso daquele que tem o
monopólio arbitrário do gosto traduz-se em um poder
simbólico;
poder de inculcar formas e categorias de conhecimento do mundo da
moda.
Segundo
Bourdieu, o poder
simbólico
ou violência
simbólica
poderiam ser definidos como formas de poder invisíveis, só podendo
ser exercidos com a cumplicidade daqueles que não sabem que estão
sujeitos a ele ou mesmo que o exercem
Mas,
como bem lembraria Berger e Luckmann interiorizamos e nos
identificamos com o mundo exterior, pois necessitamos de um
reconhecimento de nossos pares, em especial um reconhecimento dos
outros
que
nos são
significativos,
as autoridades que nos são concebidas como legítimas
Os
indivíduos então incorporariam o social, incorporariam as
disposições de cultura sob a forma de afetos,
na
valorização negativa ou positiva de prescrições ou enunciações
performativas de um gosto.
O
tom de voz, os silêncios, olhares e gestos sinalizariam sutilmente
uma ordem ou uma chamada à ordem social de um gosto.
Assim
sendo, as condições de eficácia dessas prescrições simbólicas
silenciosamente transmitidas estariam duradoura e emocionalmente
inscritas nos nossos corpos.
Mas
para finalizar, lembraria um alerta de Berger e Luckmann, ou seja, a
bagagem simbólica transmitida pelas tradições não é imutável.
Está
profundamente arraigada em nosso inconsciente identitário, mas pode
ser remodelada desde que condições específicas de socialização
permitam sua revalidação ou alteração.
Em
condições de pluralidade cultural como as de hoje, em que muitas
instâncias socializadoras competem na nossa formação de gosto,
como as mídias, as celebridades, os estilistas ou jornalistas da
moda, podemos identificar táticas de distinção e ou de hibridismo
na construção das disposições de gosto, abrindo espaço para uma
variedade de apreciações e ecletismos no âmbito das praticas e
estilos da moda, um verdadeiro jogo simbólico de referencias
identitárias e estilos de grupo.
Não
obstante, ainda que ambos sejam aspectos importantes, não se poderia
abordá-los nos limites dessa apresentação; servem, contudo, como
lembrete ou convite para próximas investigações.
Muito
obrigada pela atenção.
Bibliografia
Básica
SETTON,
Maria da Graça Jacintho. Educação
e Mídia.
São Paulo. Editora Contexto, 2010.
SETTON,
Maria da Graça Jacintho. Socialização
e Cultura – ensaios teóricos.
São Paulo. Editora AnnaBlume, 2012.
SETTON,
Maria da Graça Jacintho. Bernard Lahire: a multiplicidade das
condições de socialização e a cultura escolar. In REGO, Teresa
(org.) Educação,
Escola e Desigualdade,
Coleção Pedagogia Contemporânea, vol. 1, Petrópolis, Editora
Vozes, 2011.
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